Temo pelos narcisos que se auto-retratam diariamente disseminando pelo mundo rostos maquilhados de alegria, na companhia dos amigos ou isolados numa qualquer esquina de copo na mão. Passo os olhos por cima dos sorrisos ostentados e assusto-me com tanta alegria. Talvez inveje tamanha capacidade para embelezar a fealdade, disfarçando defeitos que os trazem tão esplendorosamente artificiais. Conhecer-se-ão a si mesmos, como sugeria Sócrates antes de tudo o mais? Terão de si a imagem que nos vendem ou outra, menos delico-doce, mais radicalmente honesta? Parecem indianos a impingir-nos flores nas ruas do Bairro. Temos pelos narcisos que mergulhados nas correntezas do tempo fazem por ignorar a dor e o reverso da medalha, sorrindo ou pousando com caras de pedra porventura consideradas elegantes nesse mundo que é dos narcisos. Por outro lado, talvez não seja displicente regar-lhes o caule esperando que floresçam, convidá-los para jantar ao som de Nothing ever changes my love for you, pedir-hes licença para um comentário marginal: quanto de amarelo há nas pétalas dos teus olhos que seja branco? Fosses flor, serias de plástico?
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