Para o JPC, que anda lá nas nuvens.
Olha lá, tens poemas com nuvens? Que
raio de pergunta, meu, tudo quanto escrevo está envolto em nuvens. Se me
lesses, saberias que cada letra saída destas mãos é uma partícula suspensa no
pensamento e que o pensamento é a atmosfera onde trovejam ideias que por vezes
dão luz como relâmpagos, noutras ocasiões fertilizam rostos como lágrimas, por
vezes destroem tudo como granizo. Ah, as palavras, pedras abstractas com peso e
medida. A gente atira-as à água para ver formarem-se círculos em que
mergulhados os olhos descansam, a gente arremessa-as contra os inimigos
esperando feri-los, a gente di-las da boca para fora envolvendo-as logo de
seguida numa nuvem de fumo arrependido. Poemas com nuvens? Mas tu és maluco?
Todo eu sou uma nuvem a dançar ‘Round
Midnight com bandos de aves migratórias insatisfeitas, inquietas,
deslocando-se de um lado para o outro por não ficarem bem em lugar nenhum. Sim,
tenho poemas com nuvens. Toma lá de presente esta que tirei agora do bolso a
pensar em ti, monta-te nela como o Senhor cavalgando à entrada do Egipto e
zarpa para dentro de uma nuvem no interior doutra nuvem até ao imo da nuvem
primeira. Eu tenho mais que fazer, ainda há para aí muita garrafa a pedir
socorro.
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