As consciências zen do meu tempo, andam com a
inteligência tão mergulhada no artificial, que até se esquecem de que há um
planeta autêntico para tratar. As consciências revolucionárias do meu tempo,
andam com a cabeça tão mergulhada na rede, que até se esquecem de que há ruas
onde gritar.
4 comentários:
A luta faz-se nas ruas, é verdade mas também é verdade que não podemos deixar as redes entregues apenas aos trolls de direita, temos de os combater também aí.
Ainda bem que vim mergulhar a cabeça na rede para encontrar um iluminado que me lembra que posso gritar na rua
Nunca, mas nunca, o poder da rua será substituível pelo mundo virtual das redes. A razão é simples. O barulho nas redes é menosprezável pela existência de bots, na rua são corpos reais, factuais, visíveis, indesmentíveis. É preciso é levar as pessoas para a rua, o que será cada vez mais difícil. Foram capturadas pela rede, e aí permanecem apáticas, indolentes, conformadas, letárgicas, desiludidas, desinteressadas, adormecidas, inertes, deprimidas, frustradas, entretidas, anónimas.
A pessoa que teve a ideia de meter "bots" nas redes teve de se inspirar nalguma coisa. Assim de repente, acho que os melhores candidatos são os militantes dos partidos que se limitam a repetir o que diz o líder do partido, os comentadores dos programas de futebol que se limitam a repetir o que diz o presidente do clube, etc., os jornalistas que reptem 30 vezes a mesma notícia, os que gostam de mantras, aforismos, slogans, clichés, e de os repetir incessantemente. Se estas pessoas ganharem o poder da rua, a rua é igual à rede, se partirmos do princípio que a rede é dominada pelos "bots" ou por quem teve a ideia de os introduzir nos debates das redes, isto porque o "bot" serve apenas e só o propósito de quem o criou.
Acho que tem uma perspetiva muito optimista. Já eu sou mais pessimista. Acho que as relações nas redes mimetizam o que se passa nas ruas. Os gajos que inventaram os robots das redes porventura fizeram um estudo de mercado que concluiu que inventar "um programa de software que executa tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas" (ou seja, um bot - meti no google bot e esta foi a primeira definição que surgiu) e metê-lo na rede, saía mais lucrativo do que contatar pessoas para executar tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas... Isto no contexto da internet. No passado, e porventura em certos contextos do presente, contratar pessoas para executar tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas continua a ser muito lucrativo.
O fenómeno curioso da internet é que quem não é "bot" acaba executando as tais tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas. E na rua? Quem ganha a rua tem o objetivo de fazer o quê com quem perde a rua?
Acho que já me perdi no raciocínio, o que prova que não sou um
"bot." Elogio o seu optimismo.
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