sexta-feira, 10 de maio de 2024

UM POEMA DE VIRGÍLIO MARTINHO

 


Já sei o que se passa no mundo.
Ouvi a música da vitória,
vi a multidão hiante a correr,
os rostos como narizes compridos.

Ouvi as vozes da vitória,
mastigavam como vulcões, mordiam.
Eram todos bonitos, ganharam.
Tinham as caras dos pais, ganiam.

Vieram do campeonato, tinham alma,
eram jovens, comiam, como comiam!
Tisnados da praia, olhos pardos, barba,
tudo que faz parte da agonia.

Têm rabo, picha grande, acne,
são o futuro, conhecem dinheiro,
mas ganharam, alpista para eles,
vitória para nós, parecem bigodes.

Têm razão, são as vozes, os voos
do mundo, são os corredores da morte,
os rapazes do grande balão,
os amortecedores do colchão.

Virgílio Martinho, in Vinte & Um Poemas, suplemento de A Ideia - revista de cultura libertária, n.º 77/80, 2016.

Sem comentários: