quinta-feira, 9 de maio de 2024

A BALADA DE AMOR E MORTE DO PORTA-ESTANDARTE CHRISTOPH RILKE

 


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Descanso! Ser hóspede, por uma vez que fosse. Não satisfazer sempre os seus desejos com escasso sustento. Não aspirar a tudo sempre com hostilidade; por uma só vez, deixar que tudo aconteça, e saber: o que acontece é bom. Mesmo a coragem tem algum dia de estirar-se e cair sobre si no debrum dos cobertores de seda. Não ser sempre soldado. Por uma só vez usar os cabelos soltos e o largo colarinho aberto e ficar sentado em poltronas de seda e até às pontas dos dedos assim:  estar como depois do banho. E voltar a aprender o que são mulheres.  E como fazem as de branco e como são as de azul; que tipo de mãos têm, como cantam o seu riso, quando rapazes louros trazem as belas taças, carregadas de frutos sumarentos.

Rainer Maria Rilke, in A Balada de Amor e Morte do Porta-Estandarte Christoph Rilke, tradução e posfácio de Bruno C. Duarte, Edições do Saguão, Novembro de 2018, p. 37.

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