sábado, 3 de agosto de 2024

UM POEMA DE ANTONIO CISNEROS

 


FIM DE ÉPOCA NO MEDITERRÂNEO (AQUI NÃO SE FALA DE PESCADORES)
 
Nem do cemitério submarino apenas um monte de barcos mortos: balandras, veleiros de corrida e iates (tipo 1, tipo 2).
É fácil deduzir quanto-o quê-como comem os vizinhos pelas latas abertas e atiradas para o pátio de trás.
A crédito com uma vela, com dinheiro vivo são duas. Gordura para um ano: burguesia inexperiente / Henrique
o Navegador: para um fim-de-semana.
 
O vento nocturno fez um iate e uma balandra (bandeira da Libéria) saltarem contra a floresta de pinheiros.
E hoje dedicaram-se a resgatá-los, a cobri-los com toldos, a amarrá-los aos postes da praia.
E alguns renovaram os prazos do seguro que, chegado o Outono, é mais barato. Agora, até ao Verão
Henrique
o Navegador e os demais vão controlar a pulsação, o açúcar no sangue.
Duas embarcações de guerra protegem-nos do gelo e dos ventos.
 
Eu espero que as águas se separem e voltem a juntar-se e tudo acabe limpo e azul. Tal como no mapa.

 
Antonio Cisneros, in Como Higuera en un Campo de Golf, posfácio de William Rowe, Kriller71 ediciones, 2012, p. 37. Data da primeira edição: 1972. Versão de HMBF.

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