quinta-feira, 7 de novembro de 2024

DA IDOLATRIA

 
91 anos passados sobre a ascensão de Hitler ao poder, a pergunta "como foi possível?" serve apenas de prova para a degeneração do papel da memória e do saber que caracteriza o último século. Não aprendemos absolutamente nada com a História. Antes pelo contrário, desaprendemos largando mão da dúvida, da curiosidade, hipotecando o pensamento crítico, investindo em modelos educativos que são apenas promotores de competências técnicas ao serviço do capitalismo e das suas dinâmicas de sucesso num mundo movido pelo consumo. Da América já pouco devíamos esperar depois do macarthismo e de outros exemplos que nos provam ser ali a democracia um mero simulacro. O sistema eleitoral americano é disso exemplo gritante com o tal Colégio Eleitoral. Mas nada disto é deveras preocupante perante o processo de americanização global que se manifesta nos comportamentos das pessoas, cada vez mais acríticas, entretidas com os seus gadgets, fascinadas consigo mesmas, arrumadas em uniformes que as tornam previsíveis, sem qualquer rasgo diferenciador. Como foi possível? Exactamente como será possível cá se continuarmos a ignorar o que está a acontecer na nossa sociedade cada vez mais estupidificafa, infantilizada, desinteressada do outro, do diferente, uma sociedade de indivíduos que veneram os próprios egos, que se adoram a si mesmos tanto quanto odeiam os que se lhe opõem. Há quem lhe chame polarização, mas é mais profundo do que isso. Os ídolos, ah, os ídolos.

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