91 anos passados sobre a ascensão de Hitler ao poder, a
pergunta "como foi possível?" serve apenas de prova para a
degeneração do papel da memória e do saber que caracteriza o último século. Não
aprendemos absolutamente nada com a História. Antes pelo contrário,
desaprendemos largando mão da dúvida, da curiosidade, hipotecando o pensamento
crítico, investindo em modelos educativos que são apenas promotores de
competências técnicas ao serviço do capitalismo e das suas dinâmicas de sucesso
num mundo movido pelo consumo. Da América já pouco devíamos esperar depois do
macarthismo e de outros exemplos que nos provam ser ali a democracia um mero
simulacro. O sistema eleitoral americano é disso exemplo gritante com o tal
Colégio Eleitoral. Mas nada disto é deveras preocupante perante o processo de
americanização global que se manifesta nos comportamentos das pessoas, cada vez
mais acríticas, entretidas com os seus gadgets, fascinadas consigo mesmas,
arrumadas em uniformes que as tornam previsíveis, sem qualquer rasgo
diferenciador. Como foi possível? Exactamente como será possível cá se
continuarmos a ignorar o que está a acontecer na nossa sociedade cada vez mais
estupidificafa, infantilizada, desinteressada do outro, do diferente, uma
sociedade de indivíduos que veneram os próprios egos, que se adoram a si mesmos
tanto quanto odeiam os que se lhe opõem. Há quem lhe chame polarização, mas é
mais profundo do que isso. Os ídolos, ah, os ídolos.
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