“New York”: Lou Reed
O primeiro Lou Reed que ouvi
terá sido “New York” (1989), álbum que aos dias de hoje adquire uma espécie de aura
profética. Escutem-se “There Is No Time” ou “Sick of You”, podiam ser hinos
para a América entretanto rendida aos caprichos de um demente rodeado de outros
dementes. Ou “Last Great American Whale”, onde a certa altura se diz isto:
«Americans don’t care too much for beauty / They’ll shit in a river, dump
battery acid in a stream / They’ll watch dead rats wash up on the beach / and
complain they can’t swim». Talvez também neste caso possamos falar de
ecopoesia. No entanto, o primeiro disco de Lou Reed que adquiri foi uma
colectânea intitulada “Walk On The Wild Side” (1981), título que remete para
uma das mais populares das suas canções, incluída em “Transformer” (1972),
disco produzido por David Bowie. Como é sabido, antes do percurso a solo, o
autor de “Dirty Blvd” formou-se nos The Velvet Underground, banda de certo modo
inventada por Andy Warhol. Influenciado pelo escritor Delmore Schwartz, de quem
foi aluno, mas também por um autor central da literatura norte-americana como
Edgar Allan Poe, a quem dedicou o penúltimo dos seus álbuns, “The Raven” (2003),
Lou Reed é um incomparável escritor de canções, canta a recitar poemas sobre ambientes
contaminados e paisagens poluídas, situações de autodestruição e poderes
corrompidos pelo que de pior há no poder, a hipocrisia. Há um lado simples nas
suas composições, quase minimalista, que me fascina sobretudo pela capacidade
que demonstra ter em fazer dezenas de combinações diferentes com três ou quatro
acordes. Ouço-o sempre com entusiasmo.
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