domingo, 9 de fevereiro de 2025

50 X 26

 


“New York”: Lou Reed
 
O primeiro Lou Reed que ouvi terá sido “New York” (1989), álbum que aos dias de hoje adquire uma espécie de aura profética. Escutem-se “There Is No Time” ou “Sick of You”, podiam ser hinos para a América entretanto rendida aos caprichos de um demente rodeado de outros dementes. Ou “Last Great American Whale”, onde a certa altura se diz isto: «Americans don’t care too much for beauty / They’ll shit in a river, dump battery acid in a stream / They’ll watch dead rats wash up on the beach / and complain they can’t swim». Talvez também neste caso possamos falar de ecopoesia. No entanto, o primeiro disco de Lou Reed que adquiri foi uma colectânea intitulada “Walk On The Wild Side” (1981), título que remete para uma das mais populares das suas canções, incluída em “Transformer” (1972), disco produzido por David Bowie. Como é sabido, antes do percurso a solo, o autor de “Dirty Blvd” formou-se nos The Velvet Underground, banda de certo modo inventada por Andy Warhol. Influenciado pelo escritor Delmore Schwartz, de quem foi aluno, mas também por um autor central da literatura norte-americana como Edgar Allan Poe, a quem dedicou o penúltimo dos seus álbuns, “The Raven” (2003), Lou Reed é um incomparável escritor de canções, canta a recitar poemas sobre ambientes contaminados e paisagens poluídas, situações de autodestruição e poderes corrompidos pelo que de pior há no poder, a hipocrisia. Há um lado simples nas suas composições, quase minimalista, que me fascina sobretudo pela capacidade que demonstra ter em fazer dezenas de combinações diferentes com três ou quatro acordes. Ouço-o sempre com entusiasmo.

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