MUDAR PARA LONGE
Ouvi dizer que agora querem criar fronteiras na água, declará-la um lugar,
impor-lhe uma forma,
dissolver o solvente.
Não é solução para o nosso problema provável:
Nunca mais te verei, digo em linha. Digo sozinha. Agora ficaremos nós
mais do que a sós.
Posso ser boa amiga para ti se for para longe? Não te vejo há anos,
Mas gosto de arestas por limar - uma ilha arrancada a um grande tirano,
empregarei em ti toda a minha lenha.
Feitiçaria, em que me tornaria?
Um metro de ferro, um toco de tronco. Um desejo de simetria.
O meu fogo passaram-mo bruxas de caldeirão nas suas longas
juventude reprovadas-
cresce a crista nas ondas,
enxaguada de desejo, solavancando sempre sem que sede seque ou estanque. Como se
não ondulasse a água e virasse a maré
e me respondesse como um animal
ciumenta, esmagada, lavando-se.
nunca esquecerei que me disseste para nunca esquecer
mas esqueci. A tua voz a agulha que me cerze a ferida aberta,
já queimada e limpa para um corte limpo.
In DEZ AR MAR // TEN SEA AIR, organização de Margarida Vale de Gato e José Duarte, Casa de Gigante - Associação Mandriões no Vale Fértil, tradução de Inês de Melo Eufémia, Novembro de 2024, p. 48.
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