Os judeus são um distúrbio para o tempo. Esse distúrbio
tem um efeito sobre os Estados, as fortificações, os assentamentos
populacionais. É uma ameaça, no fim de contas, à estrutura do Estado. O único
povo que ainda conserva esta estrutura móvel e sem Estado são os ciganos. A sua
mera presença é uma provocação. Como expoentes da estrutura móvel, põem em
causa tudo aquilo em que um Estado se baseia. A verdadeira tragédia é a criação
do Estado de Israel. É uma reacção ao anti-semitismo e aos pogroms, mas é uma
armadilha. Israel transformou os judeus num povo promotor do Estado e levou-os
a abandonarem a sua verdadeira estrutura, que é anti-Estado. Afinal, acabou por
ser Hitler a transformar os judeus em romanos. Roma é o núcleo do Estado e as
suas estruturas imperiais.
Heiner Müller, in O Futuro é o Mal, organização e
tradução de Fernando Ramalho, Língua Morta, Janeiro de 2025, pp. 164-165.

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