A verdade é que nunca me senti tão farto do meu país.
Isto há-de ter alguma coisa a ver com política, mas nem é dessa já longa e
triste história que se alimenta este cansaço. É mesmo das pessoas, do ambiente
social, das ruas sempre ruidosas e publicitárias. Não quero ser injusto para
com o muito de bom que por cá nos aguenta, mas a verdade é que nunca senti
tanto lixo à minha volta. As televisões são um barómetro desta porcaria
generalizada que entretém as massas, com seus Gouchas e Cristinas e big brothers
e etcs. E os influencers? O que dizer dos e das influencers? Tanta gente que
trocava a própria mãe por umas embalagens de manteiga de amendoim e eu cheio de
saudades da minha. A verdade é que a boçalidade instalou-se entre nós como uma
espécie de aroma que tudo contamina. O culto da estupidez, o orgulho na
ignorância, a exibição do grosseiro são hegemónicos num mercado que promove
atropelamentos e fugas. Tudo isto contra a autoridade do conhecimento, o valor
do saber, a cultura da dúvida e do espírito crítico, porque tudo é relativo e
ninguém venha dizer-me que estou errado porque eu sou o maior e nunca me engano
e raramente tenho dúvidas. A literalidade mata, entorpece, mas nunca foi tão
reinante como nestes tempos algoritmados. Não há paciência para tanta grunhice.
O que fazer? Procurar espaços vazios, praias desertas, regar as plantas no
jardim de Epicuro. Combater a desolação com a alegria da descoberta, seguindo,
tanto quanto possível, por vias que não nos obriguem a atravessar essas praças
repletas de gente aos gritos como bichos numa selva de cios insatisfeitos.
Serei elitista? Que porra de conceito. Poderá ser acusado de elitismo quem não
se conforma com a nódoa na ponta da língua? Enfiar um capuz na cabeça e
votar-nos à contemplação mística também não está fora de questão, desde que não
nos privem de vinho. E continuar, e seguir, de preferência por caminhos
secundários, amestrando o vírus paparazzi que se propagou por uma humanidade
narcisista que de tanto se fotografar esquece que o outro existe.
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