quarta-feira, 11 de junho de 2025

PODE-SE DIZER?

 


O caso do actor agredido não foi episódio isolado, estes "incidentes", como lhes chama a nossa imprensa, não são fruto do acaso. Há quanto tempo andamos a falar, por exemplo, da infiltração da extrema-direita nas forças de segurança? O que foi feito para travar esta capacidade de infiltração e arregimentação que a internet veio facilitar exponencialmente? Nada foi feito, os nossos responsáveis políticos continuam a assobiar para o lado com os seus "pode-se dizer" e garantias de um Portugal coeso e multicultural, porque não somos racistas, que exagero, e sempre nos demos bem uns com os outros e outros com todos. Só que esta gente está cada vez mais organizada, distribuem sopas pelos sem-abrigo (os brancos), são patriotas, mesmo que por vezes cometam uns exageros tipo, sei lá, atacarem imigrantes na rua e nas suas próprias casas, interromperem apresentações de livros, provocarem desacatos em manifestações do 25 de Abril, invadirem com megafones festejos muçulmanos, etc, etc, etc... Fazem vídeos que circulam por aí com a maior das facilidades, exibem-se no X com a sua propaganda de ódio, crescem e multiplicam-se, dentro e fora da autoridade e do poder. Manuel Luís Goucha recebe Mário Machado, Tânia Ribas de Oliveira recebe Nuno Cláudio Cerejeira, e assim vamos normalizando neonazis condenados como bons pais de família. O Chega tem nas suas bancadas deputados que festejam, celebram e instam acções policiais a matar (desde que sejam sobre pretos e imigrantes, claro, como aqueles que ontem, depois de um jogo de hóquei, se envolveram em carros incendiados), tem o apoio popular de uma sociedade intoxicada por uma classe política medíocre que anda a brincar com o fogo, 50 anos de democracia a dar cabo da educação e da cultura em favor de numerus clausus, estatísticas e objectivos quantificáveis. Agora foi o actor, e as televisões lá estavam, e as redes de amizade aí estão solidárias (ainda bem), mas foi também o sheik Munir, nas barbas do poder, sob silêncio das massas e das TVs e demais caixas de ressonância adictas em likes e audiências. Assim continuará a ser, e com modos cada vez piores, sobre todos quantos não sejam como eles, os brancos, os puros, e não partilhem do seu ódio. Agora cante-se o hino, vá, e viva a selecção. Pode-se dizer? Por mim pode.

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