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É importante que se
encontre o sítio onde se possa morrer; por isso venho ensinar-te um. Perguntas
onde ele fica? Tem que ser um espaço diferente dos que existem à tua volta e a
que estás habituado. Exíguo, igual ao teu tamanho, extremamente simples. É
necessário que tudo ali seja calmo, envolto pelo maior silêncio, quase oculto.
Há-de estar mesmo desprovido de quaisquer sinais que permitam a alguém vir
reconhecê-lo mais tarde porque se destina a tornar-se para sempre ignorado,
invisível. Será o lugar onde te hás-de sentir sozinho, de certo modo
abandonado. E compreenderás então que já o conheces. Porque ele é o teu corpo.
Fernando Guimarães,
fragmento de "A Analogia das Folhas", parte de "Na Voz de um
Nome" (2006), in "Algumas das Palavras - Poesia Reunida 1956-2008",
Quasi Edições, Dezembro de 2008, pp. 343-344.

1 comentário:
Gostei!!!
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