domingo, 24 de agosto de 2025

50 X 33

 


“Só”: Jorge Palma
 
Há coisas que não são para aqui chamadas, pelo que poupar-vos-ei às misérias da minha vida nesses idos de 90. Jorge Palma era companhia frequente. Primeiro, por causa de “Bairro do Amor” (1989) – o álbum com capa em amarelo-Carris. Depois, por causa de “Só” (1991), uma colectânea a solo que oferece algumas das melhores canções do autor interpretadas ao piano. É um disco que ainda hoje revisito com enorme prazer, ao contrário de outros álbuns sempre um pouco desequilibrados por culpa de versos e rimas arrancados a ferros. Também gosto muito de “O Lado Errado da Noite” (1985), porventura o disco de originais que mais escapou a essas desigualdades. Não se contam pelos dedos as ocasiões em que vi e ouvi Jorge Palma ao vivo, tenho recordações para todos os gostos, mas esse “café concerto” de há 23 anos foi mesmo especial. A perda e os abismos contribuíram para que nunca mais esquecesse aquelas deambulações por um teclado bêbado e uma guitarra alcoólatra, embalando tragédias com a ternura de uma voz a espaços traída pela debilidade das cordas.  Não há como explicar a razão destes momentos se nos gravarem na memória como nomes cinzelados numa pedra, pelo que só por isso, mais não houvesse, já muito estaria eu a dever ao Jorge Palma de “Só”.

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