“Só”: Jorge Palma
Há coisas que não são para
aqui chamadas, pelo que poupar-vos-ei às misérias da minha vida nesses idos de
90. Jorge Palma era companhia frequente. Primeiro, por causa de “Bairro do Amor”
(1989) – o álbum com capa em amarelo-Carris. Depois, por causa de “Só” (1991),
uma colectânea a solo que oferece algumas das melhores canções do autor interpretadas
ao piano. É um disco que ainda hoje revisito com enorme prazer, ao contrário de
outros álbuns sempre um pouco desequilibrados por culpa de versos e rimas
arrancados a ferros. Também gosto muito de “O Lado Errado da Noite” (1985),
porventura o disco de originais que mais escapou a essas desigualdades. Não se
contam pelos dedos as ocasiões em que vi e ouvi Jorge Palma ao vivo, tenho
recordações para todos os gostos, mas esse “café concerto” de há 23 anos foi
mesmo especial. A perda e os abismos contribuíram para que nunca mais
esquecesse aquelas deambulações por um teclado bêbado e uma guitarra
alcoólatra, embalando tragédias com a ternura de uma voz a espaços traída pela debilidade
das cordas. Não há como explicar a razão
destes momentos se nos gravarem na memória como nomes cinzelados numa pedra,
pelo que só por isso, mais não houvesse, já muito estaria eu a dever ao Jorge
Palma de “Só”.

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