Tendemos a julgar os "estigmas raciais" mais em
função da cor da pele do que em função de preconceitos de classe, estereótipos
políticos ou de um certo etnocentrismo cultural instalado no Ocidente. Ora,
fenómenos como o de Bolsonaro no Brasil ou o de Trump nos EUA demonstram como
estamos errados. Há tempos, li um artigo sobre o aumento de apoio a Trump entre
os negros. Ventura também se gaba de ter ex-imigrantes na bancada do Chega,
pessoas a que chama portugueses não originários. Hoje, mais do que a cor da
pele, o que mexe com os nervos da extrema-direita que pulula nos corredores do
poder é uma ideia de superioridade cultural relativamente a tudo o que não seja
católico, evangélico, cristão. Eles não odeiam os hindustânicos por serem um
pouco mais escuros do que os ruivos de Albufeira, mas sim por julgarem que os
hindustânicos são todos muçulmanos. Mesmo os que sejam hindus ou budistas ou
outra coisa qualquer. O que eles não suportam é o islamismo e o comunismo ou o
socialismo, que os broncos dos states associam à imigração sul americana. Mais
do que a cor da pele (os judeus odiados por nazis eram brancos), o que está
sempre em causa é o modo como te vestes, a quem oras, a etnia a que pertences,
o partido em que votas. O que eles odeiam é a diferença, o que não suportam é
tudo o que não encaixe nos seus uniformes. O acolhimento aos ucranianos
lourinhos nunca seria o mesmo a oferecer aos palestinianos escurinhos, não
apenas por uns serem louros e os outros não. É que os primeiros são como nós,
isto é, facilmente se ajoelham em Fátima, os segundos não.
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