quarta-feira, 29 de outubro de 2025

OS NÃO-INTOXICADOS

 
«Ah, o olhar fácil, abutresco, dos (clinicamente) não-intoxicados. A lampeirice dos que arquivam no desprezo (teórico e prático) os e as que agarram a seringa ou a garrafa ou o comprimido – ou tudo junto; o fareisísmo de quem se droga de «bom comportamento». A filha-de-putice dos meninos e meninas exemplares, que curtem a deplorável acidificação de quem não espera mais da vida do que o sucessozinho passageiro; aquele ferrado de polvo com que agarram quem se aproxima dos tentáculos do «como-deve-ser». Puta filha de puta de «legalidade»; como não cagar em ti, pra ser honesto? E porventura sabe algum dos instalados o que aponta a porta estreita da liberdade? Fechados no conforto das suas rodinhas, os como-eles, os instalados: cabrões, gerados por (e gerados de) imperdoáveis cornos, com que agridem dia a dia todo o progredir humano.»

Nuno Bragança, “Directa” (1977).

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