sábado, 29 de novembro de 2025

50 X 36

 


“Nebraska”: Bruce Springsteen

Ainda não vi o filme sobre Bruce Springsteen, o mais provável é não ver. Salvo raras excepções, não gosto de filmes sobre músicos. Enfim, gostei do Amadeus, de Milos Forman, e do Control, de Anton Corbijn, e do Johnny & June, de James Mangold, e do Whiplash, de Damien Chazelle... Se calhar até gosto de filmes sobre músicos, mas hoje não me apetece. Até porque basta-me a música de Springsteen, que devo ter começado a ouvir por alturas do Born in the U.S.A. (1984). Devo ter tudo dele entre Greetings from Asbury Park, N.J. (1973) e The Ghost of Tom Joad (1995), extraordinária colecção de canções com agradecimento especial a John Ford, por causa do filme The Grapes of Wrath, baseado na obra de John Steinback. Depois de entrarmos no século XXI perdi o rasto do boss, que vi ao vivo no velhinho Estádio José Alvalade no primeiro de Maio de 1993. Li algures que Álvaro Cunhal apreciava o autor de Nebraska, mas talvez seja mito. Não me admiraria, porém, até pelo teor dessas letras que retratam uma américa profunda e desencantada, a dos marginais e criminosos que, diante de um juiz, justificam liminarmente a razão dos seus crimes: «Sir, I guess there's just a meanness in this world». Não é fácil ser justo e recto num mundo que a toda a hora nos parece governado por pulhas, há uma certa maldade, uma certa malícia, que se torna kit de sobrevivência. A bondade rende pouco entre matilhas de predadores. Ainda assim, precisamos de razões para acreditar. Estou a ouvir aquela do homem na berma da estrada a olhar para o cão morto. É engraçado, canta Springsteen, mesmo assim, no termo de cada dia difícil, as pessoas ainda encontram motivos para acreditar. Talvez a música seja um bom motivo.

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