sexta-feira, 28 de novembro de 2025

UM POEMA DE RITA TABORDA DUARTE

3. O Ananás

Dois anos lhe leva o medrar
nisso pouco difere do elefante
que matura a lentidão do marfim
no útero da mãe.

Aqui, não há lugar para elefantes:
uma pata em falso e é quanto basta
para rasgar uma cratera nos bofes do mar.

Não tento medir forças
entre uma mulher   um elefante   um ananás
fruto ou bestas - criaturas da terra

Nesse particular   deus se fez marxista:
a cada qual segundo as suas capacidades e pouco mais
lhe deve ser cobrado. Das necessidades deus não disse
que uma mulher não tem precisão de quase nada
além de um torrão no chão onde se possa
enterrar de pé.

O que quero dizer é que
uma mulher se desembaraça na vida
bem melhor que um ananás: menos
de um ano leva a amadurecer   um filho

Depois é só trazê-lo à cabeça
equilibrado na coroa de espinhos
e medir a espera
no umbigo do tempo.

Rita Taborda Duarte, in Enxofre, colecção elemeNtário, Flan de Tal, Dezembro de 2025, pp. 45-46.

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