segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

ROSAURA, EM SONHOS PUTA

 
De braço dado com Rosaura, depois de ler "Calderón", de Pier Paolo Pasolini: O problema é que agora os operários já não operam, colaboram, e de rabinho a dar a dar, ajoelham-se e oferecem a patinha em troco de um biscoito. Arreganham os dentes uns aos outros, mas lambem as fuças aos donos. Podíamos meter fé nos estudantes, mas esses também já não estudam. Registam-se, transferem dados, aplicam-se no inglês para saberem o significado de scroll enquanto depositam o futuro no algoritmo mágico. Portanto, nem pelos operários nem pelos estudantes a revolta virá. Mendigos, bêbados, putas e loucos continuarão loucos, putas, bêbados e mendigos, indefesos e desarmados como pangolins. O que nos sobra? A pena murcha dos escritores? Ganhem juízo. Amorfas, mas com inscrição no ginásio, letárgicas, mas seguidas pelo psiquiatra, rendidas ao espectáculo e ao consumo, as multidões aí estão sob o comando digital das modas e das tendências. O que olham fixamente diante de si? As suas próprias vidas desalmadas enquanto se interrogam onde estão, meu deus, onde estão, e que mundo é este em que acordamos sem darmos por isso e deixámos de sonhar para poupar nas despesas? Ainda se vêem ao espelho, mas já só para disfarçarem o rosto que não reconhecem.

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