Quando cheguei à denominada blogoesfera, um dos weblogs com que mais facilmente me identifiquei foi o Tempo Dual, mantido por Sandra Costa e Cláudia Caetano. Por mero acaso, soube, muito recentemente, que Sandra Costa era igualmente autora de um livro editado pela Campo das Letras. Procurei-o, encontrei-o e adquiri-o. Dou-vos agora conta do mesmo, apesar de a 1ª edição datar já de Outubro de 2002. Duvido, somente pelas contingências do mercado literário português, que entretanto tenha sido efectuada uma segunda edição. Digo somente porque, pela qualidade da poesia ali reunida, não me espantaria nada que tal facto extraordinário pudesse ter sucedido. A poesia de Sandra Costa, pelo menos a poesia contida em Sob a luz do mar, é de uma transparência atroz. A contenção e mestria na depuração do verso afastam-na de qualquer tipo de excesso lírico, bastas vezes presente numa poesia mais luminosa e diáfana como é o caso presente. Confesso que, por mera questão de gosto, identifico-me mais, enquanto leitor, com uma poesia não tão desnudada. Talvez por isso me sinta mais à vontade para sublinhar o estranho prazer que me deu ler este livro. A opção pelo poema curto, por vezes epigramático, ajuda a uma respiração serena, assim como a obsessão clara por um certo conteúdo lexical (a palavra “maresia”, por exemplo, repete-se à exaustão) torna a leitura de Sob a luz do mar bastante aprazível, dada a leveza com que o universo da autora se vai impondo, progressivamente, ao leitor. Encontram-se afinidades claras com as poéticas de alguns mestres mais ou menos óbvios, mas Sandra Costa consegue ser suficientemente singular para que não se justifique uma qualquer conotação de tipo mais redutor. Em jeito de conclusão, diria apenas que há neste volume uma intimidade poética que se revela com a leveza de um “movimento invisível” e as palavras acabam por deslizar como «o silêncio / suspenso / dos sonhos».
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