sábado, 17 de outubro de 2009

O ARTISTA É O CRIADOR DE COISAS BELAS


Ficou por dizer que Oscar Wilde nasceu em Dublin, a 16 de Outubro, filho de Sir William Wilde, especialista em doenças dos olhos e dos ouvidos, e de Lady Jane Francesca, poetisa e jornalista empenhada na defesa dos direitos das mulheres que escrevia sob o pseudónimo de Speranza. Oscar teve dois irmãos, Willie, mais velho, e Isola, que morreu muito novinha. Lady Wilde, desgostosa, passou a vestir Oscar com roupas de menina, hábito que o poeta nunca mais largou. Estudou na Portora Royal School, em Enniskillen, e na Universidade de Trinity College, em Dublin, onse se distinguia dos demais pela inteligência e... pelas roupas. Em 1874, ingressa no Magdalen College, em Oxford, chocando os professores com atitudes irreverentes no que respeitava a matérias religiosa e estética. Viaja por Itália e Grécia, termina o curso com distinção, vê um poema seu, Ravenna, ser premiado, muda-se para Londres. A sua filiação esteticista está perfeitamente de acordo com os primeiros trabalhos enquanto crítico de arte. Faz circular uma primeira peça de teatro, Vera; or the Nihilists, em edição de autor, publica Poems, em Dezembro de 1881, e parte para os EUA para uma série de conferências, estendidas posteriormente a Paris. Casa com Constance Lloyd no ano de 1884, de quem terá dois filhos: Cyril (1885) e Vyvyan (1886). No entanto, os seus amores eram outros. Foi amante de Robert Ross e, mais tarde, de Lord Alfred Douglas. Sobrevive como editor da revista Woman’s World, publica o livro de contos The Happy Prince and Other Tales. 1890 é o ano em que começa a publicar The Picture of Dorian Gray: «Toda a arte é completamente inútil». Publica colectâneas de contos, ensaios, vê peças suas serem produzidas, até que se separa de Constance Lloyd. O caso “Bosie” ─ epíteto de Lord Alfred Douglas ─ tem início. Circulam rumores sobre a relação mantida entre Wilde e Bosie. Viagens a Florença e Argélia, trabalhos conjuntos, fazem explodir a ira do Marquês de Queensberry, pais de Bosie, o qual havia feito circular um cartão insultando Oscar Wilde de sodomita. Lord Alfred Douglas convence Wilde a processar o Marquês por difamação, gesto imprudente que veio a revelar-se a ruína do autor de Salomé. Em 1895, Wilde é preso, julgado e condenado a pena máxima por indecência, acusado de homossexualidade, o que, à época, era ilegal na Grã-bretanha. Cumpre o primeiro ano de prisão em Newgate, sendo depois transferido para Pentonville, Wandsworth e, finalmente, para o Cárcere de Reading. Após 19 meses de absoluta privação, é-lhe permitido escrever. Compõe De Profundis, uma carta dirigida ao amante que veio a tornar-se num marco da obra de Wilde. Lord Alfred Douglas Wilde morre em 1896. No ano seguinte, Wilde é libertado e abandona a Inglaterra para sempre. Viveu em França, Itália, Suíça, usando, muitas vezes, o nome de Sebastian Melmoth. Reencontra Bosie em Nápoles, com quem malogradamente procura reiniciar uma vida em comum. Constance Lloyd morre em 1898. Dois anos depois, «num quarto austero do Hôtel d’Alsace, em Paris (socorrendo-se da episódica tença de Cecil Rhodes com que pagava os serviços dos gigolôs da Rue dês Beaux-Arts)»*, Oscar Wilde morre, vítima de meningite, a 30 de Novembro:

A MINHA VOZ

Neste veloz mundo moderno, inquieto,
Tivemos tudo o que quisemos ─ eu e tu
E o nosso barco tem agora mastros nus,
E provisões já não nos restam.

E, de chorar, minha alegria me abandona,
A minha face empalidece prematura,
A minha boca rubra é curva de amargura,
E a Ruína é o dossel da minha cama.

Mas para ti toda esta vida tão repleta
Foi lira só, ou alaúde, ou leve encanto
De violas, ou como quando canta o mar
Que dorme numa concha, e o eco se repete.


*Eduardo Pitta, in Metal Fundente, Quasi, Maio de 2004.

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