terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ROSA LOBATO DE FARIA (1932-2010)


Eu sei o sol a solidão o sono.
Eu sei os ralos o suor o gado
a sombra que se esconde.

A lagartixa sábia se insinua
nas entranhas do cântaro rachado.
A cal aquece nua
e esquece
o sonho emparedado.

No silêncio da sala a badalada.
Uma pancada só. Hora nenhuma.
No sótão as maçãs dormem a sesta.
Seu hálito ressuma.

No quarto a mosca o mosquiteiro a cesta
de vime toda cheia do bordado
que os meus dedos não sabem
mas pressentem
na sede deste verão abandonado.

Eu sei a espera o tempo o coração parado.


Rosa Lobato de Faria, in Poemas Escolhidos e Dispersos, Roma Editora, Outubro de 1997, p. 11.

5 comentários:

Tolan disse...

Isso é um belo poema.

hmbf disse...

O Tolan é um homem de bom gosto (ou será uma mulher? Cá para mim és a Clara Ferreira Alves :-)))))).

Bluesy disse...

Também não sou fã, mas gosto de algumas coisas que escreveu. (Só não percebo qual era a obsessão dela com cestas e fruta....e neste poema lá estão elas!)

Anónimo disse...

também não coube na antologia

hmbf disse...

Bluesy, os poetas têm as suas obsessões. Uns com as mães, outros com as mãos, outros com o vento, outros com o mar, outros com... cestas e fruta. :)