Camarada Van Zeller, dizem que Portugal vai falir. É bem feito. Ninguém nos mandou ser independentes. Tivéssemos ficado espanhóis e nada disto se verificaria. Diga, desculpe, o quê? Espanha também vai falir? Pois, mas se falirem há-de ser ao som do flamenco, com as sevilhanas ébrias de dança e toda a ciganagem a bater palmas. À gente da minha terra, lamento informá-lo, sobra o fado e a Mariza. Mas tenho esperança que falir não seja uma coisa assim tão má, e tenho ainda mais esperança nas cartadas que o governo guarda debaixo da manga e ninguém está a topar. Esta conversa da falência pode muito bem ser como o bluff no poker, quando os nossos adversários menos esperarem sacamos de uma daquelas jogadas de génio em que sempre fomos exímios. E eu estou convencido de que isso já está a acontecer. Sabe o camarada Van Zeller que o nosso país é dos que mais génios exporta para os quatro cantos do mundo. Lembrar-se-á daquela teoria da exportação de cérebros. Antecipando-se à globalização, Portugal foi espalhando os seus cérebros por toda a Europa, pelo norte e pelo sul das Américas, pela Ásia, África, etc.. Desconfio que até junto dos esquimós haja um cérebro português a fazer das suas. Se há coisa que não nos falta é portugueses geniais no estrangeiro. Por cá, fica o refugo. É bem provável que a nuvem de fumo que atravessa os céus europeus se deva à incansável actividade de um desses cérebros. Aquilo do vulcão, lá está, é só para disfarçar. É bluff. Com tudo isto o governo justificou a necessidade de investimento no TGV e a importância de um novo aeroporto. Justificou-o, pelo menos, com a mesma desenvoltura com que o senhor Pedro Arroja justifica os benefícios históricos da Santa Inquisição. Nada comparável, porém, com a grande jogada em marcha: o regresso a casa dos filhos pródigos da nação, o regresso dos cérebros por aí disseminados que agora voltam para sermos salvos da crise, da falência, da agonia em que nos estamos a enterrar como uma pedra num pântano. Inês de Medeiros aí está. Um dos nossos cérebros exportados, um dos mais ilustres, está de volta. Em plena Assembleia da República, já trabalha arduamente para nos salvar do naufrágio. Distrai-nos com filmes. E que filmes! O país não percebe que as viagens entre Paris e Lisboa são um justificadíssimo investimento na salvação da pátria, são o começo de uma nova era, a era dos cérebros retornados. O país precisa de Inês tanto quanto Pedro precisava. Abram os olhos. Vós, leitores, que o camarada Van Zeller já os tem bem esbugalhados.
2 comentários:
A Inês tem ido a Paris ver os tpc's dos meninos. E organizar a ementa da semana. Isso exige, como se sabe, uma enorme concentração de massa cinzenta. E conforto total em classe executiva.
Mais exige a nossa compreensão.
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