segunda-feira, 17 de maio de 2010

«E EU COMPREENDO AGORA UM POUCO, COMO É PRECISO AMAR, E TER PENA, E PERDOAR, E DIZER ADEUS...»

Olga Bergolts (Bergholz, Berggolts?) nasceu no dia 16 de Maio de 1910 em são Petersburgo. Filha de um médico e de uma doméstica, estudou artes e literatura na Universidade de Leninegrado. Os seus primeiros poemas foram publicados em 1924, embora o primeiro livro apenas tenha sido dado à estampa dez anos depois, sob patrocínio de Gorki e com grande êxito. Em 1925 juntou-se a um grupo literário onde conheceu Boris Kornilov, seu futuro marido. Do casamento entre Boris e Olga nasceu uma filha, Irina. Terminados os estudos em Leninegrado, a poeta partiu para o Cazaquistão como jornalista. Divorciou-se de Boris Kornilov e juntou-se a Nikolay Molchanov, que virá a morrer de fome em 1942. De resto, a sua vida foi sempre marcada pela tragédia. Perdeu dois filhos, viu Boris Kornilov ser assassinado pelo regime que então vigorava na URSS, foi presa em 1937, torturada a ponto de dar à luz uma criança prematura, tendo sido libertada apenas em 1939. Os seus versos são sintomáticos da vida que teve: «Eu nunca poupo o meu coração: / nem na canção, nem na amizade, nem na dor, nem na paixão…» Durante a II Grande Guerra, juntou-se ao Partido Comunista e foi a voz da resistência na rádio de uma Leninegrado sitiada pelo exército Nazi. Para tal, contou com a ajuda da amiga Anna Akhmátova. Foi também nesse período que perdeu o segundo marido e o filho, conquistando ao mesmo tempo uma forte reputação junto dos cidadãos de Leninegrado que encorajava e procurava motivar com os seus poemas. «A sua poesia assume o carácter de uma confissão íntima, uma auto-expressão, muitas vezes com a forma de diário». Além de poesia, Olga Bergolts escreveu romances, prosa diarística, etc.. Com o termo da Guerra, viu o seu esforço ser premiado e a sua poesia reconhecida internacionalmente. Morreu no dia 13 de Novembro de 1975:

E eu digo-lhe, que não são
vãos os anos que vivi,
nem inúteis os caminhos percorridos,
ou sem objectivo tudo o que ouvi.
Não são imunes ao mundo,
nem são imaginariamente uma prenda de anos,
os amores em vão também não foram,
amores fraudulentos ou doentes,
a sua luz limpa e imortal
sempre em mim,
sempre em mim.
E nunca é tarde para de novo
começar toda a vida,
encetar o caminho,
para que do passado ─ nem uma palavra,
nem um gemido seja destruído.



Poema respigado na Antologia da Poesia Soviética, trad. Manuel de Seabra, Editorial Futura, Dezembro de 1973.

4 comentários:

Anónimo disse...

desculpe, foi "uma das vozes" da resistencia na rádio da Leninegrado sitiada, a par da de Ana Akmatova e de outras

hmbf disse...

agradecido

maria disse...

uff, que força!

agradecida por esta publicação.

hmbf disse...

Uma senhora, ao que parece.