Nascido em Lisboa a 19 de Maio de 1890, Mário de Sá-Carneiro perdeu a mãe quando contava apenas 2 anos de vida. O facto veio a revelar-se determinante no desenvolvimento da personalidade do poeta. Com uma carreira militar a dar os primeiros passos, o pai de Mário de Sá-Carneiro acabou por deixá-lo ao cuidado dos avós numa quinta situada em Camarate. Aos 8 anos, perdeu a avó, tendo então passado a viver apenas com o avô e uma ama. O ambiente da quinta estimulou-lhe a imaginação e, consequentemente, as primeiras peças teatrais. Entretanto, o seu pai investia a fortuna em viagens por Paris, Roma, Nova Iorque, mimando o menino e, por vezes, levando-o consigo pelos melhores hotéis da Europa. Ao que parece, o jovem foi sempre tão mimado que aos 14 anos ainda não se sabia vestir sozinho. Este estilo de vida atípico, fez com que só muito mais tarde do que seria previsível tenha o jovem entrado para o Liceu do Carmo, posteriormente Liceu de S. Domingos, para aí concluir o ensino secundário com 21 anos já feitos. A vida sedentária tê-lo-á tornado socialmente inadaptado, tímido e com alguma vergonha do excesso de peso, característica que o levou a chamar-se a si próprio, não sem ironia, de Esfinge Gorda. No liceu, continuou a desenvolver a apetência pela literatura, sobretudo pelo teatro. Em 1904, redige e publica um jornal académico intitulado O Chinó. Traduz Schiller, Goethe, Victor Hugo, entre outros. Começa a escreve os primeiros poemas: «O amor não é um bem: / Quem ama sempre padece». À escrita, devem juntar-se breves e malogradas experiências como actor. Em 1908, começou a publicar poesias e contos na revista Azulejos. Eram estes os seus temas aos 18 anos: loucura e suicídio. 1910 será um ano marcante. Escreve a peça Amizade com o amigo Tomás Cabreira Júnior, o qual se suicidará, com um tiro na cabeça, no pátio do Liceu de S. Domingos, a 9 de Janeiro de 1911. Num poema dedicado ao amigo, escreverá Mário de Sá-Carneiro: «Amor! Quem tem vinte anos / Há-de por força amar. / Na idade dos enganos / Quem se não há-de enganar?» (A Um Suicida) Cito António Quadros: «Com este ano de 1911 completa-se um primeiro ciclo da vida do poeta, o ciclo estudantil. É o ano em que se suicida o seu melhor amigo, em que pensa já muito a sério a sua qualidade de escritor, em que termina o liceu e em que se matricula na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, cujo primeiro ano não chega sequer a concluir». O segundo ciclo será o da publicação e representação de Amizade (1912), das colectâneas de contos Princípio (1912) e Céu em Fogo (1915), do livro de poemas Dispersão (1914) e da novela A Confissão de Lúcio (1914). As obsessões do contista serão sempre as mesmas: suicídio, crime, loucura, morte. Princípio confere-lhe algum reconhecimento junto do meio literário lisboeta. Após uma fugaz passagem por Coimbra, Mário de Sá-Carneiro conheceu Fernando Pessoa na capital. Pouco depois, o poeta de Dispersão partiu para Paris. Aí travou conflituosas relações com Santa-Rita Pintor, ao mesmo tempo que se deixava emaranhar na vida artística parisiense: «Que droga foi a que me inoculei? / Ópio de inferno em vez de paraíso?... / Que sortilégio a mim próprio lancei? / Como é que em dor genial eu me eternizo?». Problemas financeiros, traziam-no, de quando em vez, a Portugal. Assim como a ameaça de uma invasão alemã que pairava sobre a capital francesa em tempos de Guerra. Passa cerca de um ano, entre 1914 e 1915, junto dos seus camaradas modernistas: Fernando Pessoa, Luís de Montalvor, Armando Côrtes-Rodrigues, Raul Leal, Almada Negreiros, António Ferro, entre outros. Reúnem-se em tertúlias de café, no Martinho da Arcada, na Brasileira, etc.. Deste convívio resultará a revista Orpheu, cujo 1º número verá a luz do dia em Março de 1915. Os textos de Álvaro de Campos provocaram escândalo, o grupo foi visto como um bando de malucos que deixou Fernando Pessoa em êxtase. Esgotado o 1.º número, o 2.º saiu em Julho. Nesse mesmo mês, Mário de Sá-Carneiro partiu definitivamente para Paris. Com o pai novamente casado, sem a fortuna de outrora, a subsistência do poeta ficou nas suas próprias mãos. O pai ainda lhe mandava algum dinheiro, mas não o suficiente que pudesse garantir a sua subsistência e a continuidade dos projectos literários que havia planeado. Escreve os últimos poemas de Indícios de Oiro, o livro que ficará inédito: «Uma gaveta secreta / Com segredos de adultérios… / Porta falsa de mistérios ─ / Toda uma estante repleta: // Seja enfim a minha vida / Tarada de ócios e Lua: / Vida de Café e rua, / Dolorosa, suspendida ─ // Ah, mas de enlevo tão grande / Que outra nem sonho eu prevejo… / ─ A eterna mágoa dum beijo, / Essa mesma, ela me expande…». Nos derradeiros meses em Paris, uma paixão desastrada por uma prostituta chamada Lili (Helena? Renée?), a falta de dinheiro e o desespero levam-no a tomar 5 frascos de arseniato de estricnina. Tinha 10 cêntimos no bolso do colete.
Sem comentários:
Enviar um comentário