terça-feira, 7 de dezembro de 2010

RESILIÊNCIA

Foi-se apercebendo dos tiques comportamentais que caracterizavam as pessoas conforme o estatuto que ocupavam na hierarquia empresarial. Cada qual com os seus. Aquela pergunta ─ sabe o que significa? ─ evocou dentro dele um velho desprezo pelos jogos psicológicos, pelos testes, pelas provas de aptidão. Resiliência é o que pedem ao homem dos trapos, não sem o questionarem sobre o significado do termo. Seria embaraçoso ficar sem palavras. Um pouco mais abaixo conheceu quem funcionasse por meras provocações. Imagine-se uma situação em que alguém usa de um ar soberbo e, sem dizer água vai, coloca nas mãos do homem dos trapos um simples papelinho dobrado para meter no lixo. É como se lhe estivessem a chamar homem do lixo, coisa que não o afectava particularmente. O crápula não pediu: podes pôr-me isto no lixo? O cretino não perguntou: onde é o lixo? Se o tivesse feito, o homem dos trapos seria o primeiro a pegar no papelinho dobrado e, atenciosamente, colocá-lo-ia no lixo. Não. O que o afectou foi o ar soberbo, uma indisfarçável falta de educação vestida de fato e gravata. Apeteceu-lhe atirar o papelinho dobrado às trombas do cretino, mas foi resiliente. Era o que lhe pediam, para isso lhe pagavam. O povo chama-lhe engolir sapos.

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