domingo, 17 de abril de 2011

MANICÓMIO

Basta folhear o periódico para constatar a mais evidente das realidades: Portugal é um manicómio. Fernando Nobre oferece uma entrevista ao Expresso para dizer que encabeça uma lista do PSD sem conhecer o programa do PSD. Mais afirma que a sua única intenção, ao candidatar-se pelo principal círculo eleitoral do país, é ser eleito presidente da Assembleia da República, como se as legislativas servissem para eleger um presidente da Assembleia da República. «Se não for eleito presidente da AR renuncio de imediato», diz. Quer chegar a general sem ser recruta. Ao pé disto, a campanha do Licor Beirão com o Futre a propor soluções para Portugal - Acabar com o desemprego. Cunhas para Todos! - é de uma ingenuidade enternecedora. Fernando Nobre arrisca transformar-se no jogador chinês que o PSD de Passos Coelho tanto precisava, depois do partido se ter transformado numa máquina de distribuição de tachos para pseudo-independentes que há muito andavam a cheirá-los (de Francisco José Viegas a Carlos Abreu Amorim é um ver se te avias). Mas isto não é tudo. Medina Carreira, também no Expresso, resume com especial eficácia o sentido das manifestações populares. Vale a citação:

Cada vez que a CGTP convoca uma manifestação, eu fico satisfeito. Vêm com galinhas, sentam-se no Parque Eduardo VII, comem uma galinha, descem a avenida, ouvem o Carvalho da Silva e vão para casa. E há descompressão. A nossa sociedade precisa disso.

Portanto, do que estamos todos necessitados é de piqueniques. A CGTP que continue a promover piqueniques, é disso que o país (e os seus gestores) precisa. Enquanto houver piqueniques, podem dormir descansados todos os trafulhas que enriqueceram à conta do BPN de José Oliveira Costa (ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais num dos governos de Cavaco Silva, nunca é demais lembrá-lo). Enquanto tal, os signatários do «compromisso Portugal» promovem almoçaradas e alargam o clube, a Maria Filomena Mónica vota Partido Socialista desde 1974, a crise aumenta depressões e risco de suicídio, os furtos dão prejuízo de 1 milhão por dia (resta saber se nestas contas estão contemplados todos os tipos de furtos e todos os géneros de larápios) e o procurador José Vaz Correia entretém-se a recitar quadras ao gosto popular durante os julgamentos. Eis a cereja no topo do bolo de uma nação que já não está à deriva nem naufragou nem nada do que possam imaginar, é mesmo uma nação inimputável:

Os comboios já vão cheios
Muitos se levantam cedo
Nas mulheres aprecio os seios
Mas têm outro enredo

Vejo brancos e pretos
Nacionais e estrangeiros
Alguns vivem em guetos
Outros em lugares foleiros

São sete e pouco da manhã
Viajo de metro para o trabalho
Fi-lo ontem, farei-o
[sic] amanhã
Só sou aquilo que valho


Quadras escritas pelo procurador José Vaz Correia durante uma viagem de metro e registadas em ata, por exigência do próprio, em plena sala de tribunal durante um julgamento que opunha uma empresa à beira da falência à operadora de telefones móveis Vodafone. Dá para acreditar?

3 comentários:

Anónimo disse...

Entretanto, os teus amiguitos da pena-e-tinteiro discorrem sobre a "ficção e a realidade" numa mesa algures em Matosinhos, enquanto pernoitam e mamam jantares e almoços pagos pela Câmara (e por nós, claro). Em que lado da "realidade" andas tu, ó Fialho?

http://bibliotecariodebabel.com/geral/em-curso-7/

hmbf disse...

nhã nhã nhã, nhã nhã nhã, nhã nhã nhã. e não se cala e só diz merda e ninguém lhe liga nenhuma. mais mesquinho é impossível.

Luis Eme disse...

é, mas parece-me que os malucos somos nós, aliás, parvos.