sábado, 11 de junho de 2011

CÉU




observando o céu

digo-me que é celeste desbotado (acalma
azul puro após um duche gelado)

as nuvens movem-se

penso no teu rosto e em ti e nas tuas mãos e
no ruído da tua pena e em ti
mas o teu rosto não aparece em nenhuma nuvem!
esperava vê-lo colado a ela como um
pedaço de algodão enrolado dentro de fita adesiva
continuo a caminhar

um cocktail mental ladrilha a minha testa
não sei se pense em ti ou no céu
e se atirasse uma moeda ao ar? (cara tu coroa céu)
não! o teu ser não se arrisca e
eu desejo-te de-se-jo-te
céu pedaço de cosmos céu morcego infinito
imutável como os olhos do meu amor

pensemos nos dois

os dois tu + céu = minhas sensações galopantes
biformes bicolores bitremendas bidistantes
distantes distantes
longe

sim amor estás longe como o mosquito
sim! esse que persegue uma mosquita junto
ao farol amarelosujo que vigia debaixo do
céu negrolimpo esta noite angustiante
..........................................cheia de dualismos



Alejandra Pizarnik, in Un Signo en tu Sombra

Versão de HMBF

1 comentário:

Mariana disse...

Belo poema. Como sempre, por aqui, poesia da melhor qualidade, não importando a assinatura. Finalmente pude ler as danças, tangos, boleros e rocks. Fiz um comentário sucinto lá no blog:

http://thmari.blogspot.com/2011/06/henrique-manuel-bento-fialho-o.html

Abraço.