sábado, 12 de novembro de 2011

ADVENTO




Já tanto saboreámos e experimentámos, amada –
Que sem surpresa nos surge através de uma fenda larga.
Mas aqui, na escura sala do Advento,
Onde o pão preto seco e o chá sem açúcar
Da penitência voltarão a encantar o luxo
Da alma de uma criança, nós devolveremos ao Juízo Final
O conhecimento roubado que não pudemos usar.

E a frescura que estava em todas as coisas bolorentas
Quando as olhávamos na infância: o espírito chocando
Com o espanto numa negra colina inclinada do Ulster
Ou o assombro profético na conversa entediante
De um velho palerma, despertarão para nós e irão
Levar-nos ao portão do jardim para vermos as urzes
E as crateras, carreiros, velhos redis onde o Tempo começou.

Ó, após o Natal não será preciso buscar
O sentido que define uma velha frase em chamas –
Vamos escutá-lo no argumento sussurrado pela batedeira
Ou nas ruas onde os rapazes da aldeia cambaleiam.
E também o escutaremos entre homens decentes
Que estrumam as árvores nos jardins,
Onde quer que a vida comum flua em abundância.
Não seremos ricos, o meu amor e eu, e se Deus
Quiser não teremos de cobrar justificações sobre
A pungente singularidade das sebes inclinadas
Nem de analisar o hálito de Deus nas declarações vulgares.
Lançámos no caixote do lixo os soldos em barro forjado
Do desejo, do conhecimento e dos momentos de consciência –
E Cristo surgiu com uma flor de Janeiro
.



Patrick Kavanagh

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