segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

dona vida






Há basto tempo não vos conto meus domésticos vícios. Julgaram rotos leitores que a verga se calou, imune ao desafogo que na poesia esbate punheteira forma. Esganai-vos com prosa de só coçardes a dita em perambólica monha, eu vos perdoo. Rico não estou porém da estranja sina, alargo a experiência com tântricos remédios. No mosteiro de singeverga foi assim: o sacristão fendido ajudando a preparação do licor e eu esgalhando a mastodôncia pra cima do madeiro cá de trás. Cantou o coro com a gosma entrando plas bocas a afinar o vício, que a santonta desceu cá abaixo a ver se havia mais. E havia, fiz-lhe um soneto que ela perguntou se podia chamar um anjo pra lhe amparar a excedentária coma s asas. O anjinho entalou-se com a dita e solfejou mais cedo, a superiora também quis. Jesus Cristo dai-me disto. E dei eu, tomai deste céu. Santa senhora, que o sois menos agora. As asas do anjinho esburacadas do travasso assertório resvalando plas hóstias, tvi à porta, o altíssimo de hossanas a pedi-las. E como não gosto que me peçam virei-me às câmaras e entalei o gorgulhão até se virem escuras, e foi assim que me amancebei com deus, que afinal é gaja e tem uma xauvineta que dá pra encalcetar o universo. E depois fui-me, com um sentimento bastante agradável a pingalhar o tapete dos restos da minha alegria.


Alcides, in Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa, selecção e organização de Rui Costa e André Sebastião, prefácio de Henrique Fialho, 7 Dias 6 Noites – Editores Unipessoal, Lda., Exodus, Fevereiro de 2008, p. 21. Mais de Alcides: Alcides.1, Alcides.2, tofu.3, jackpot.4, donamorte.6, virgenetas.7, teoriatoda.8, passagemdeano.9, Pessoa.10 e Oriental.9. Já agora, deixo-vos também ligação para uma Imitação de Alcides.

2 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

é fixe , lido em voz alta.


csd

Anónimo disse...

Inesperadamente, hoje ri com o Alcides.Saudades.Obrigada pelos segundos ensolarados Henrique.PB