Camarada Van Zeller, hoje dirijo-me a si enquanto pai: você
é completamente ignorante, não passaria no primeiro ano do meu curso e duvido que
passasse no primeiro ano do curso do Relvas. Portugal deixou de ser uma
república das bananas para se transformar numa república dos pentelhos,
enquanto o Presidente hasteia a bandeira de pernas para o ar e o Pedro vai de
scooter para Bratislava comemorar o que só ele sabe. Talvez tenha ido
encontrar-se, secretamente, com o Catroga, um desaparecido em combate que se
fartou de trabalhar para levar ao poder os alunos do António Borges. Já ninguém
se ouve, já ninguém se escuta, e eu falo-lhe, camarada, enquanto pai. No Pátio
da Galé, uma cidadã ainda tentou fazer-se ouvir. Sem efeito. Os seguranças do
governo-pentelheira encarregaram-se de catar mais este chato elemento do melhor povo do mundo. É de facto uma
chatice não poder comemorar em silêncio as porras da república, encher a boca
de bolo-rei, mastigar a saliva e poder passar a noite na Quinta da Coelha ao
som do vento e do mar. Não faço declarações, não tenho nada a declarar, não
sei, não digo. Que saudades desses tempos. Agora, há sempre um chato por perto,
um chato dispendioso a contribuir para a saúde financeira das agências de
segurança. Bem-vindos ao país do “não me filmas a cara, pá”, esse onde o melhor
povo do mundo até pode ser o melhor activo de Portugal mas não deixa de ser
também um irritante empecilho às experiências do professor Gaspar. Daí que
lhe sugiram a emigração, ao povo, enquanto Portas se fecha à coligação pela
frente mas abre-se à coligação pelas traseiras. Desenganem-se, ó cigarras, nós
não debandamos para França, Suíça ou Brasil em busca de futuro, debandamos
porque ficámos convencidos de que esses países precisam do melhor povo do mundo,
um povo de cigarras, enquanto por cá o Miguel Macedo se vai metamorfoseando num
híbrido metade formiga outra metade barata. Um dia, olharemos para o presente e
espantar-nos-emos com isto. Não estamos a viver uma anedota, é mesmo esta
a nossa realidade caríssimos concidadãos. E pior que isto eu não me recordo de alguma
vez ter havido.
P.S.: reparai na imagem, é tudo de tal modo revelador que parece ter
sido encenado. Custa acreditar na realidade quando a olhamos assim, com tanta
clarividência. Um Presidente da República hasteia a bandeira do seu país,
rodeado dos notáveis da nação, que com cara de parvos olham para uma bandeira
do avesso. Na legenda, as comemorações do 5 de Outubro são
acompanhadas das notícias que mais interessam ao melhor povo do mundo:
Tottenham e Panathinaikos empatam a 1 Golo na Liga Europa. Isto é tão
Portugal a entrar-nos pelos olhos adentro que apetece fechar os olhos e dormir
uma eternidade.
5 comentários:
Realmente difícil acreditar no que as vistas enxergam na imagem. Absurdo tão grande que beira o surreal.
De mais!!!
É real.
E a cantora Ana Maria Pinto intrepretou "Firmeza" de Lopes-Graça com poema de João José Cochofel, enquanto os polícias levavam para fora a Luisa Trindade (cidadã a que te referes em gritos de protesto). No final do canto de Ana Maria alguns batiam palmas, não sei se entendeam a palavra protesto cantada ou se pensavam que fazia parte das comemorações oficiais. Existem lados positivos nisto: dois espiritos femininos que encarnaram a républica portuguesa a 5 de Outubro de 2012, o último dia em que foi feriado nacional, visto que de futuro querem apagar esta data.
Entre os que batiam palmas, que são dos que batem palmas a tudo, o António Capucho descobriu um que se fartou de bater palmas ao antigo regime. É só ver as imagens com atenção. Isto anda mesmo tudo de pernas para o ar, tanto de pernas para o ar que até o Capucho e o Marques Mendes já parecem vozes sensatas.
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