Camarada Van Zeller, recebi hoje com pesar a notícia da
sua demissão. Este país não precisa de mais homens a engrossarem as filas de
desempregados às portas da Segurança Social, pelo que sugiro-lhe, desde já, que
emigre para Angola ou para o Brasil. Não seja piegas, aceite os bons conselhos
do Primeiro aos professores desempregados e crie a sua própria
oportunidade num país ultramarino. Com sorte, encontrar-se-á pelo caminho com
o ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro. Dizem que é bom amigo de seu amigo. Junte-se-lhe na fundação, peço desculpa, na criação de uma pastelaria e dediquem-se às natas. Os
comunas violentos dos estaleiros de Viana não chegam onde homens liberais e
pacifistas como Loureiro chegaram, pelo que é seguir-lhe os passos e o
exemplo. A verdade é que este país não tem tino desde que António Guterres, lá
nos idos de 1995, pôs-se a fazer contas. Veio Durão Barroso, apontou o país de
tanga e zarpou para paragens mais apresentáveis. Ficámos nas mãos do poeta
Pedro Santana Lopes, cuja poesia nunca é demais recordar:
Este é um Governo a quem
ninguém deu quase o direito
de existir antes dele nascer,
e que, depois de nascer
através de um parto difícil
teve que ir para uma incubadora
e vinham alguns irmãos
mais velhos e davam-lhe uns
estalos e uns pontapés
Ó camarada, que bem faria Pedro Passos se deixasse Camões
na paz e no sossego do túmulo e se dedicasse à hermenêutica destes versos. Mas os
tempos são outros, o mundo está difícil e os violentos comunistas dos
estaleiros de Viana não lêem poesia. De resto, duvido mesmo que leiam. Têm
cara de ignorantes, um pouco à semelhança dos empresários do António
Borges. É por estas, e por outras como estas, que gosto de lembrar o célebre
discurso de Paulo Rangel num 25 de Abril de algures. Recordar-se-á o meu amigo de
que já nessa altura Rangel se referiu à asfixia democrática então vivida no
país. Foi num tempo em que os políticos podiam sair à rua, depois de
Cavaco ter degustado um bolo-rei engolindo em seco o brinde enquanto ordenhava
vacas e se interrogava sobre o porquê de nascerem tão poucas crianças em Portugal.
Foi num tempo, bom tempo, em que Manuela Ferreira Leite podia questionar-se
sobre se não seria bom haver seis meses sem democracia para pôr tudo na ordem.
Nesse tempo, os violentos comunistas de Viana não existiam. Se calhar
estavam numa incubadora, enquanto Sócrates tentava vender o primeiro grande computador
ibero-americano e Miguel Relvas norteava a sua vida pela simplicidade da
procura do conhecimento permanente. Não sei se nesse tempo Vítor Gaspar já
tinha acabado o curso, mas duvido que lhe passasse pela cabeça participar num
Governo com o propósito de retribuir o enorme investimento que o país colocou
na sua, dele, educação. Eram bons tempos, porque andávamos distraídos com
assuntos mais importantes do que o défice. Afinal, há mais vida para lá
do défice. Há, por exemplo, o violento e comunista sindicato dos trabalhadores
dos Estaleiros Navais de Viana. E parece que há António José Seguro, embora não
saibamos onde nem quando nem como. Talvez sentado na bancada de uma Assembleia da República que
ele próprio pretende reduzir, para ficar, quem sabe, a jogar uma suecada com o
Zorrinho, o Passos e o Relvas. Enfim, um abraço deste que muito o estima. Dê cumprimentos meus ao coiso.
5 comentários:
São tudo estórias do tempo do queijo limiano, antes dos comunistas terem invadido os estaleiros de viana. bjs
a vitalidade daqueles homens vem das criancinhas ao pequeno almoço
E agora, seguindo o camarada Van Zeller o seu conselho, quem será o seu pen friend?
Confesso que a mesma pergunta do Cristóvão me veio à mente, mas logo pensei que o que não faltam são Camaradas Van Zeller por aí.
O Van Zeller é um tipo abstracto, não é uma personalidade concreta. Pelo que continuarei a escrever-lhe, assim como quem se dirige aos mortos.
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