terça-feira, 23 de outubro de 2012

PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

Camarada Van Zeller, recebi hoje com pesar a notícia da sua demissão. Este país não precisa de mais homens a engrossarem as filas de desempregados às portas da Segurança Social, pelo que sugiro-lhe, desde já, que emigre para Angola ou para o Brasil. Não seja piegas, aceite os bons conselhos do Primeiro aos professores desempregados e crie a sua própria oportunidade num país ultramarino. Com sorte, encontrar-se-á pelo caminho com o ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro. Dizem que é bom amigo de seu amigo. Junte-se-lhe na fundação, peço desculpa, na criação de uma pastelaria e dediquem-se às natas. Os comunas violentos dos estaleiros de Viana não chegam onde homens liberais e pacifistas como Loureiro chegaram, pelo que é seguir-lhe os passos e o exemplo. A verdade é que este país não tem tino desde que António Guterres, lá nos idos de 1995, pôs-se a fazer contas. Veio Durão Barroso, apontou o país de tanga e zarpou para paragens mais apresentáveis. Ficámos nas mãos do poeta Pedro Santana Lopes, cuja poesia nunca é demais recordar:

 

Este é um Governo a quem
ninguém deu quase o direito
de existir antes dele nascer,
e que, depois de nascer
através de um parto difícil
teve que ir para uma incubadora
e vinham alguns irmãos
mais velhos e davam-lhe uns
estalos e uns pontapés

 
Ó camarada, que bem faria Pedro Passos se deixasse Camões na paz e no sossego do túmulo e se dedicasse à hermenêutica destes versos. Mas os tempos são outros, o mundo está difícil e os violentos comunistas dos estaleiros de Viana não lêem poesia. De resto, duvido mesmo que leiam. Têm cara de ignorantes, um pouco à semelhança dos empresários do António Borges. É por estas, e por outras como estas, que gosto de lembrar o célebre discurso de Paulo Rangel num 25 de Abril de algures. Recordar-se-á o meu amigo de que já nessa altura Rangel se referiu à asfixia democrática então vivida no país. Foi num tempo em que os políticos podiam sair à rua, depois de Cavaco ter degustado um bolo-rei engolindo em seco o brinde enquanto ordenhava vacas e se interrogava sobre o porquê de nascerem tão poucas crianças em Portugal. Foi num tempo, bom tempo, em que Manuela Ferreira Leite podia questionar-se sobre se não seria bom haver seis meses sem democracia para pôr tudo na ordem. Nesse tempo, os violentos comunistas de Viana não existiam. Se calhar estavam numa incubadora, enquanto Sócrates tentava vender o primeiro grande computador ibero-americano e Miguel Relvas norteava a sua vida pela simplicidade da procura do conhecimento permanente. Não sei se nesse tempo Vítor Gaspar já tinha acabado o curso, mas duvido que lhe passasse pela cabeça participar num Governo com o propósito de retribuir o enorme investimento que o país colocou na sua, dele, educação. Eram bons tempos, porque andávamos distraídos com assuntos mais importantes do que o défice. Afinal, há mais vida para lá do défice. Há, por exemplo, o violento e comunista sindicato dos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana. E parece que há António José Seguro, embora não saibamos onde nem quando nem como. Talvez sentado na bancada de uma Assembleia da República que ele próprio pretende reduzir, para ficar, quem sabe, a jogar uma suecada com o Zorrinho, o Passos e o Relvas. Enfim, um abraço deste que muito o estima. Dê cumprimentos meus ao coiso.

5 comentários:

MJLF disse...

São tudo estórias do tempo do queijo limiano, antes dos comunistas terem invadido os estaleiros de viana. bjs

jp disse...

a vitalidade daqueles homens vem das criancinhas ao pequeno almoço

Cristóvão disse...

E agora, seguindo o camarada Van Zeller o seu conselho, quem será o seu pen friend?

Anónimo disse...

Confesso que a mesma pergunta do Cristóvão me veio à mente, mas logo pensei que o que não faltam são Camaradas Van Zeller por aí.

hmbf disse...

O Van Zeller é um tipo abstracto, não é uma personalidade concreta. Pelo que continuarei a escrever-lhe, assim como quem se dirige aos mortos.