quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

DE CAVALO PARA BURRO

Camarada Van Zeller, espero que a vida lhe corra de feição. Nós por cá vamos bem, ansiosos pelo primeiro vencimento pornográfico de 2013. Entretanto, inspirados pelo red light district de Viseu, desfizemo-nos dos estores e colocámos uns reposteiros semitransparentes, de cor rubra, a pensar em novas oportunidades de negócio. A vida não está fácil, é preciso ser previdente. Ou então comer muito queijo. Terá o camarada ouvido falar dos esquecimentos do nosso amigo Ricardo Salgado, que deixou 8,5 milhões de euros por declarar ao fisco. Ora, toda a gente sabe que o Salgado é um doce de pessoa. Jamais deixaria de declarar o que quer que fosse, não fosse, passe a redundância, ter-se esquecido. Acontece aos melhores, esquecerem-se de declarar 8,5 milhões. Eu próprio me tenho esquecido de declarar imensas coisas, diria mesmo 8,5 milhões de coisas, e nem por isso se justifica colocarem-me num qualquer Monte Branco por indícios da prática dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, tráfico de influências, corrupção e abuso de informação privilegiada. Anda um homem fartinho de trabalhar, o primeiro a entrar e o último a sair, para isto. Tantos esforços despendidos para que os mercados nos aceitem no seu leito de ternura, e nem uma nota de gratidão pela nossa honorável bravura. Veja-se o que está a acontecer ao nosso pobre Moedas, montado a cavalo no Mulas para acabar estatelado no pântano do descrédito só porque, afinal, o Mulas simplesmente não era burro. Excitam-se agora os canhotos com a desgraça em que caiu o espanhol. Parece que Mulas, co-autor do relatório do FMI sobre Portugal, laborava sobre pseudónimo para poder pagar-se a si próprio pela excelência dos seus relatórios. Há homens autoconfiantes, gente com a auto-estima em alta. Nada contra. Não só acho legítimo como me parece uma excelente ideia. Com os seus riscos, é certo. A Amy Martin que o Mulas inventou é a mulher que há dentro de todos nós. Jubile a comunidade gay com tamanha inventividade. Acreditando nas notícias, este Frank Abagnale Jr. do século XXI engendrou uma marca comercial com logótipo para a sua Amy Martin, disse ter-se cruzado apenas uma vez com a dita-cuja, ele próprio, o outro, e chegou a fornecer e-mail e número de telemóvel americano para a contactarem. A ver vamos se o engenheiro Carlos Moedas não aparece por aí numa primeira página do Correio da Manhã fotografado ao lado da Amy, a quem gabou o excelente relatório para o qual contribuiu o Mulas. Montados no relatório, lá foram os coelhos para o Palácio Foz discutir o Futuro de Portugal à porta fechada. Já se sabe como é com este governo, para quem a renegociação da dívida poderá ter consequências desastrosas para o país. Nem pensar em pedir menos juros e mais tempo, como sugeriu o presidente a quem ninguém dá cavaco. Desenganem-se pois os néscios. Se Vitor Gaspar pediu mais tempo foi apenas e tão-somente para que a Amy Martin, isto é, o Mulas, pudesse rever as notas de rodapé aos cortes de 4 não sei quantos milhões. Um pouco mais do que o Salgado se esqueceu de declarar, mas não tanto quanto o que Relvas e Santana gastam numa patuscada. Assim vamos, camarada, de espiral recessiva em regresso aos mercados, com a cabeça entre as orelhas e muita dor de cotovelo. Se ao menos pudéssemos copiar os bons exemplos do treinador Leonardo Jardim, esse que colocado na Grécia não resistiu aos encantos da mulher do patrão, não estaríamos tão acotovelados no ressabiamento. Mas não podemos, montados na mula que vamos... de cavalo para burro. A mulher é uma fraude. O relatório? Um portento! O Relvas é bom aluno. Já o povinho... é o jumento.

1 comentário:

Ivo disse...

Depois de o ler - angústia. Rio ou choro?