Camarada Van Zeller, espero que a vida lhe corra de feição.
Nós por cá vamos bem, ansiosos pelo primeiro vencimento pornográfico de 2013. Entretanto,
inspirados pelo red light district de Viseu, desfizemo-nos dos estores e
colocámos uns reposteiros semitransparentes, de cor rubra, a pensar em novas
oportunidades de negócio. A vida não está fácil, é preciso ser previdente. Ou então
comer muito queijo. Terá o camarada ouvido falar dos esquecimentos do nosso
amigo Ricardo Salgado, que deixou 8,5 milhões de euros por declarar ao fisco.
Ora, toda a gente sabe que o Salgado é um doce de pessoa. Jamais deixaria de
declarar o que quer que fosse, não fosse, passe a redundância, ter-se
esquecido. Acontece aos melhores, esquecerem-se de declarar 8,5 milhões. Eu próprio
me tenho esquecido de declarar imensas coisas, diria mesmo 8,5 milhões de
coisas, e nem por isso se justifica colocarem-me num qualquer Monte Branco por
indícios da prática dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de
capitais, tráfico de influências, corrupção e abuso de informação privilegiada.
Anda um homem fartinho de trabalhar, o primeiro a entrar e o último a sair,
para isto. Tantos esforços despendidos para que os mercados nos aceitem no seu
leito de ternura, e nem uma nota de gratidão pela nossa honorável bravura. Veja-se
o que está a acontecer ao nosso pobre Moedas, montado a cavalo no Mulas para
acabar estatelado no pântano do descrédito só porque, afinal, o Mulas simplesmente não era
burro. Excitam-se agora os canhotos com a desgraça em que caiu o espanhol.
Parece que Mulas, co-autor do relatório do FMI sobre Portugal, laborava sobre
pseudónimo para poder pagar-se a si próprio pela excelência dos seus
relatórios. Há homens autoconfiantes, gente com a auto-estima em alta.
Nada contra. Não só acho legítimo como me
parece uma excelente ideia. Com os seus riscos, é certo. A Amy Martin que o
Mulas inventou é a mulher que há dentro de todos nós. Jubile a comunidade gay
com tamanha inventividade. Acreditando nas notícias, este Frank Abagnale Jr. do
século XXI engendrou uma marca comercial com logótipo para a sua Amy Martin,
disse ter-se cruzado apenas uma vez com a dita-cuja, ele próprio, o outro, e
chegou a fornecer e-mail e número de telemóvel americano para a contactarem. A ver
vamos se o engenheiro Carlos Moedas não aparece por aí numa primeira página do
Correio da Manhã fotografado ao lado da Amy, a quem gabou o excelente relatório
para o qual contribuiu o Mulas. Montados no relatório, lá foram os coelhos para
o Palácio Foz discutir o Futuro de Portugal à porta fechada. Já se sabe como é
com este governo, para quem a renegociação da dívida poderá ter consequências
desastrosas para o país. Nem pensar em pedir menos juros e mais tempo, como
sugeriu o presidente a quem ninguém dá cavaco. Desenganem-se pois os néscios.
Se Vitor Gaspar pediu mais tempo foi apenas e tão-somente para que a Amy
Martin, isto é, o Mulas, pudesse rever as notas de rodapé aos cortes de 4 não
sei quantos milhões. Um pouco mais do que o Salgado se esqueceu de declarar,
mas não tanto quanto o que Relvas e Santana gastam numa patuscada. Assim vamos,
camarada, de espiral recessiva em regresso aos mercados, com a cabeça entre as
orelhas e muita dor de cotovelo. Se ao menos pudéssemos copiar os bons exemplos
do treinador Leonardo Jardim, esse que colocado na Grécia não resistiu aos
encantos da mulher do patrão, não estaríamos tão acotovelados no ressabiamento.
Mas não podemos, montados na mula que vamos... de cavalo para burro. A mulher é uma fraude. O relatório? Um portento! O Relvas é bom aluno. Já o povinho... é o jumento.
1 comentário:
Depois de o ler - angústia. Rio ou choro?
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