Camarada Van Zeller, é com comoção que assistimos ao teatro
das cumplicidades neste nosso país. Estamos mesmo em crer que haverá uma
relação de causa-efeito, ainda por explicar, entre as energias despendidas no
teatro das cumplicidades português e a queda de calhaus nos Montes Urais. Foi
bonito de ver o Primeiro-ministro a ser interrompido por cantorias entoadas das
galerias da Assembleia da República. Foi bonito que ele se tivesse calado e o
Relvas, a seu lado, tivesse permanecido sentado, todos muito compenetrados
nesse momento de relaxamento cultural oferecido por uma série de artistas
certamente no desemprego. Bem pode o advogado Garcia Pereira, que ali apareceu abraçado
pelo singer songwriter Carlos Mendes, passar o resto da vida a cantar Zeca
Afonso. O Primeiro, que já sabíamos fã de Paulo de Carvalho, há-de ter
apreciado esta versão algo despropositada das janeiras, sendo que a
consequência desse momento altamente rebelde foi apenas uma: constatarmos a boa
acústica da sala. Enquanto uns cantavam e outros davam à língua, o
ex-Secretário de Estado da Cultura escreveu no seu weblog que mandará tomar no
cu (versão de levar no cu segundo o novo Acordo Ortográfico) o “pobre
funcionário” da Autoridade Tributária e Aduaneira que o tentar fiscalizar à
saída de um bordel. Foi bonita de ver, mais uma vez, a cumplicidade de Miguel
Relvas para com o ex-governante, manifestando o seu respeito para com tão sentidas
palavras. Só não percebemos se, num qualquer rasgo poético perdido, não terá
Francisco José Viegas pretendido metaforizar a sua própria saída do Governo ao
falar na saída de um bordel. É verdade que nos toca a cumplicidade de 90% da
blogoesfera portuguesa para com o escritor, editor, jornalista, ex-govenrante e
ilusionista Viegas, mas sem pretender fazer cair calhaus num qualquer monte
português ficam-nos algumas dúvidas hermenêuticas sobre o sucedido. Estará o
camarada Van Zeler recordado das dívidas ao fisco do ex-governante, prontamente
desvalorizadas por São Bento como manda o exercício da boa cumplicidade
portuguesa. Viegas, que garantiu jamais pôr um pé no Governo, mais que não
fosse para não se deixar inutilizar, garante agora que mandará o fisco levar no
cu, com o respeitinho de Relvas e, muito provavelmente, a futura desvalorização
de São Bento e os risinhos cúmplices e amigáveis dos lusos fazedores de
opinião engraçada. Só que esta merda, camarada Van Zeller, não tem graça
alguma. Ver os comentadores do Eixo do Mal a comportarem-se como migueis relvas
de terceira e os humoristas do Governo Sombra a comportarem-se como humoristas
de São Bento usurpa-nos qualquer esperança no futuro, pois deixa-nos sem
perceber por que razão, perante tamanha desfaçatez, não há por aí ninguém que mande o
Francisco José Viegas, ele próprio, levar no cu mais a sua bazófia de nulo valor. É que isto de ser tremendamente exigente com o comportamento
de alguns para poder ser negligente com o comportamento de outros sempre teve
muito que se lhe dissesse neste país onde, lá está, o teatro das cumplicidades
dita as regras da opinião e pauta as avaliações de carácter. Não desejo mal ao cu de ninguém, mas também não ando por aí às apalpadelas.
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