sábado, 16 de fevereiro de 2013

THE MAGNIFICENT SEVEN (1960)



O trabalho do actor Eli Wallach em Il Buono, Il Bruto, Il Cattivo, conduz-nos a um outro western onde também fez de vilão. Calvera é o líder da quadrilha que atormenta os agricultores de uma pequena aldeia mexicana, palco principal do filme The Magnificent Seven (1960), de John Sturges (1910-1992). Baseado n’Os Sete Samurais (Shichinin no samurai, 1954), do japonês Akira Kurosawa - que, como vimos, foi igualmente crucial para a elaboração do primeiro tomo da “saga dos dólares” -, The Magnificent Seven teve, na sua origem, vários problemas relacionados com direitos de adaptação e guerrilhas ao nível da produção. Só mesmo o trabalho impecável de Sturges e um elenco de luxo poderiam superar tais complicações. Especialista em westerns, John Sturges realizou filmes notáveis de ambiente noir. Recordo-me, a título meramente ilustrativo, de Bad Day at Black Rock (1954), pautado por uma tensão psicológica que não deixa de matizar os magníficos deste western. Entre eles, destaca-se Yul Brynner (1920-1985), famoso actor de origem russa, presença assídua em épicos que lhe valeram reconhecimento internacional. À época, tinha-lhe sido atribuído um Oscar pelo desempenho no musical The King and I (1956), de Walter Lang (1896-1972). Brynner chegou a ser considerado para a realização d’Os Sete Magníficos, acabando por ficar com o mais importante dos papéis: Chris Larabee Adams. É a ele que três humildes agricultores mexicanos recorrem em busca de protecção. Se a primeira intenção era comprar armas e aprender a manuseá-las, perder o medo e lutar, o resultado será algo diferente. Naquele tempo, os homens eram mais baratos do que as armas e não tão difíceis de encontrar. A lei e a ordem tinha arrastado os velhos cowboys para uma de três hipóteses: desemprego, crime, trabalhos mal remunerados. Mal por mal, houvesse acção. Não foi por isso difícil a Chris recrutar seis mercenários capazes de enfrentar o gangue de Calvera a troco de vinte miseráveis dólares. Juntam-se-lhe Steve McQueen (1930-1980), então conhecido, sobretudo, como actor de séries televisivas; Charles Bronson (1921-2003), cujo papel de uma vida veio a cumprir oito anos depois em Once Upon a Time in the West (1968); James Coburn (1928-2002), também ele estrela de televisão, posteriormente oscarizado pelo desempenho em Affliction (1997), de Paul Schrader (n. 1946); Robert Vaughn (n. 1932), que tinha acabado de ser nomeado para um Oscar pelo trabalho em The Young Philadelphians (1959), de Vincent Sherman (1906-2006); Brad Dexter (1917-2002), porventura o menos relevante dos sete; e, surpresa das surpresas, o actor alemão Horst Buchholz (1933-2003), no improvável papel de Chico. Não estando inteiramente dependente das personalidades destes mercenários, The Magnificent Seven vive muito da exploração equilibrada que o argumento faz de cada uma delas. Desde as ligações afectivas de Bernardo O’Reilly (Charles Bronson), metade mexicano, metade irlandês, à comunidade que agora defende, passando pelos traumas que descompõem o janota Lee (Robert Vaughn), à postura competitiva de Britt (James Coburn) e ao interesse meramente material de Harry (Brad Dexter) ou a petulância de Chico, fruímos, em cada uma destas personalidades, dos elementos diversos que formam uma mesma personagem: o pistoleiro. O mito do homem implacável e confiante, seguro de si mesmo, firme, destemido, acaba desfeito pelas hesitações e pelos conflitos internos, humanos, destes sete magníficos. Chris e Vin, mais propriamente Yul Brynner e Steve McQueen, oferecem-nos tiradas inesquecíveis sobre a condenação solitária a que estavam sujeitos estes homens sem família nem lugar, sobre a contradição em que viviam ao não deixarem de lutar por si mesmos enquanto lutavam por terceiros. O argumento vinha muito a propósito no início da década de 1960, não sendo abusivo considerá-lo politicamente pretensioso no contexto social que então se vivia nos Estados Unidos da América. Os indefesos agricultores mexicanos que os pistoleiros americanos vão defender de um vilão também ele mexicano, merecem uma atenção que os resgata do quadro negro em que apareciam frequentemente representados nos westerns de então. Não admira, por isso, que o filme tenha merecido sequelas. Admira, no entanto, o tremendo sucesso que alcançou na Europa em contraste com o insucesso americano no ano em que foi exibido pela primeira vez. Ironias do destino.

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