terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CHATO’S LAND (1972)



Antes de ter sido um dos sete magníficos, Charles Bronson participou em inúmeras séries de televisão e em alguns filmes de relevância diversa. Normalmente, aparecia nos créditos, quando aparecia, como Charles Buchinsky. A mudança de apelido ocorreu durante o macartismo, como forma de contornar a impopularidade que qualquer vestígio russo inspirava nos EUA de então. Ainda assim, antes do filme de Sturges, encontramo-lo nos elencos de westerns realizados por gente como André de Toth, Robert Aldrich, Delmer Daves e Samuel Fuller. Já aqui dissemos que consideramos o homem da harmónica o seu momento de glória, mas aí rivalizava com a popularidade de Henry Fonda. Quando ganhou protagonismo, na década de 1970, Charles Bronson foi chamado a fazer de índio – algo que, na sua já extensa carreira, não era novidade – num western de segunda linha realizado pelo britânico Michael Winner (1935-2013). Chato’s Land (1972) está longe de ser um bom filme, mas merece aqui uma referência, mais que não seja, em homenagem a Winner, recentemente falecido. As falhas de Chato’s Land começam na própria caracterização de Pardon Chato, o índio apache interpretado por Bronson. O bigode é um achado, se tivermos em conta a dificuldade em encontrar imagens de índios apaches com bigode, mesmo numa fase avançada do processo de aculturação. A tanga vestida no momento da vingança é mais própria de um Tarzan dos Macacos do que de um Jerónimo em estado de rebeldia, o lenço atado à volta da cabeça parece um desses lenços de pescoço tão populares nos setentas e, sem querermos ser picuinhas, não podemos deixar de referir o estado impecável dos mocassins (em alguns planos quase parecem botins de borracha) - impecavelmente tratados para um índio confinado ao miserável território das reservas. Michael Winner também não foi muito feliz nos cenários, copiados à pressa da trilogia de Leone. A fealdade quase absoluta da paisagem talvez faça justiça ao território das reservas, mas deixa-nos frequentemente com a sensação de estarmos em terreno mais trabalhado pela força das máquinas do que pelo poder da Natureza. Vários enquadramentos atabalhoados não ajudam, assim como movimentos de câmara muito toscos e uma tendência irritante para brincar com o zoom. Não obstante, o ritmo do filme é adequado à sua natureza. Podemos mesmo dizer que Chato’s Land terá conseguido tornar-se num paradigma de certos filmes de acção. First Blood (1982), o primeiro da saga Rambo, decalca em múltiplos aspectos a desforra apache de Charles Bronson. São filmes onde a acção quase que esgota a mensagem, sobrepondo-se aos diálogos (se não me falha a memória, Bronson fala três vezes durante todo o filme e não há-de ter proferido mais do que uma dúzia de palavras) e centrando-se no heroísmo físico das suas personagens. Iminentemente físico, este western resvala apenas por breves instantes no domínio da reflexão. Domínio este que se insinua na figura do capitão Quincey Whitmore (Jack Palance), um veterano da Guerra da Secessão que limpa o pó à farda cinzenta ao resolver reunir vários homens para fazerem uma caçada a um índio que assassinou o sheriff local por este o ter impedido de beber no saloon da cidade. Cativo de preconceitos racistas, o grupo reunido por Whitmore acaba por se revelar ineficiente. Sobretudo quando, entre ele, os elementos da família Hooker resolvem sobrepor à força da razão (representada pelo velho capitão que, apesar de tudo, sabe respeitar o seu inimigo) aos instintos mais básicos, cruéis e desumanos. Assistir aos movimentos daquele grupo é assistir ao definhamento de uma lei assente em princípios errados, a qual acaba por capitular perante a força maior de um desejo de vingança suportado pelo sentimento de injustiça. Afinal, Chato nunca fez outra coisa senão agir em legítima defesa contra as ameaças e os crimes dos brancos. Uma nota final para a presença do actor James Whitmore, o velhinho que muitos anos depois acabou por se suicidar ao ser finalmente libertado da prisão de Shawshank.

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