Antes de ter sido um dos sete magníficos, Charles Bronson
participou em inúmeras séries de televisão e em alguns filmes de relevância diversa.
Normalmente, aparecia nos créditos, quando aparecia, como Charles Buchinsky. A mudança
de apelido ocorreu durante o macartismo, como forma de contornar a
impopularidade que qualquer vestígio russo inspirava nos EUA de então. Ainda assim,
antes do filme de Sturges, encontramo-lo nos elencos de westerns realizados por
gente como André de Toth, Robert Aldrich, Delmer Daves e Samuel Fuller. Já aqui
dissemos que consideramos o homem da harmónica o seu momento de glória, mas aí
rivalizava com a popularidade de Henry Fonda. Quando ganhou protagonismo, na
década de 1970, Charles Bronson foi chamado a fazer de índio – algo que, na sua
já extensa carreira, não era novidade – num western de segunda linha realizado
pelo britânico Michael Winner (1935-2013). Chato’s Land (1972) está longe de
ser um bom filme, mas merece aqui uma referência, mais que não seja, em
homenagem a Winner, recentemente falecido. As falhas de Chato’s Land começam na
própria caracterização de Pardon Chato, o índio apache interpretado por
Bronson. O bigode é um achado, se tivermos em conta a dificuldade em encontrar
imagens de índios apaches com bigode, mesmo numa fase avançada do processo de
aculturação. A tanga vestida no momento da vingança é mais própria de um Tarzan
dos Macacos do que de um Jerónimo em estado de rebeldia, o lenço atado à volta
da cabeça parece um desses lenços de pescoço tão populares nos setentas e, sem
querermos ser picuinhas, não podemos deixar de referir o estado impecável dos
mocassins (em alguns planos quase parecem botins de borracha) - impecavelmente
tratados para um índio confinado ao miserável território das reservas. Michael
Winner também não foi muito feliz nos cenários, copiados à pressa da trilogia
de Leone. A fealdade quase absoluta da paisagem talvez faça justiça ao
território das reservas, mas deixa-nos frequentemente com a sensação de
estarmos em terreno mais trabalhado pela força das máquinas do que pelo poder
da Natureza. Vários enquadramentos atabalhoados não ajudam, assim como
movimentos de câmara muito toscos e uma tendência irritante para brincar
com o zoom. Não obstante, o ritmo do filme é adequado à sua natureza. Podemos
mesmo dizer que Chato’s Land terá conseguido tornar-se num paradigma
de certos filmes de acção. First Blood (1982), o primeiro da saga Rambo,
decalca em múltiplos aspectos a desforra apache de Charles Bronson. São filmes
onde a acção quase que esgota a mensagem, sobrepondo-se aos diálogos (se não me
falha a memória, Bronson fala três vezes durante todo o filme e não há-de ter
proferido mais do que uma dúzia de palavras) e centrando-se
no heroísmo físico das suas personagens. Iminentemente físico, este western resvala apenas por breves instantes no domínio da reflexão. Domínio
este que se insinua na figura do capitão Quincey Whitmore (Jack Palance), um
veterano da Guerra da Secessão que limpa o pó à farda cinzenta ao resolver
reunir vários homens para fazerem uma caçada a um índio que assassinou o sheriff
local por este o ter impedido de beber no saloon da cidade. Cativo de preconceitos
racistas, o grupo reunido por Whitmore acaba por se revelar ineficiente. Sobretudo
quando, entre ele, os elementos da família Hooker resolvem sobrepor à força da
razão (representada pelo velho capitão que, apesar de tudo, sabe respeitar o
seu inimigo) aos instintos mais básicos, cruéis e desumanos. Assistir aos
movimentos daquele grupo é assistir ao definhamento de uma lei assente em princípios
errados, a qual acaba por capitular perante a força maior de um desejo de
vingança suportado pelo sentimento de injustiça. Afinal, Chato nunca fez outra
coisa senão agir em legítima defesa contra as ameaças e os crimes dos brancos.
Uma nota final para a presença do actor James Whitmore, o velhinho que muitos
anos depois acabou por se suicidar ao ser finalmente libertado da prisão de
Shawshank.
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