domingo, 3 de março de 2013

SHE WORE A YELLOW RIBBON (1949)


A glorificação do exército norte-americano, assim como o retrato reverencial dos seus heróis, é um dos aspectos negativos que podem ser apontados à trilogia da cavalaria. No entanto, essa glorificação não é linear, permite leituras diversas e introduz, em certos momentos, um tom crítico que liberta os filmes de John Ford (1894-1973) de uma leitura histórica facciosa e meramente epigonal. Em Fort Apache (1948), vimos como a ambição desmesurada, e até um certo ressabiamento, do Tenente-coronel Owen Thursday (Henry Fonda) manchou as fardas azuis com nódoas que nem a poeira conseguiu disfarçar. Nesse primeiro tomo da trilogia, os índios não eram tratados como a mera oposição selvagem ao avanço do mundo civilizado. Antes pelo contrário, aí eles representaram a vítima que resiste até à última das suas forças a uma fatal expropriação de um modo de vida em vias de extinção. 
She Wore a Yellow Ribbon (1949), que em Portugal ficou conhecido pelo título Os Dominadores, é porventura mais convencional na forma como expõe tais oposições. Mas neste filme em particular, John Ford não parece estar tão interessado em revisitar a história do exército norte-americano, as suas conquistas e as suas derrotas, como aparenta querer penetrar numa esfera mais humana e universal das personagens evocadas. O próprio título do filme remete para um gesto social que tem na sua origem uma manifestação de amor, a fita amarela que as jovens metiam no cabelo dando sinal aos soldados do seu interesse e também da sua preocupação. A personagem interpretada por Joanne Dru é, assim, fundamental, tanto quanto o Capitão Nathan Brittles (John Wayne), a escassos dias de deixar o exército e regressar à vida civil. 
A acção decorre em 1876, à sombra da derrota do General Custer na batalha de Little Big Horn, com várias tribos índias reunidas para combater o exército das fardas azuis. É neste cenário de guerra que o Capitão Brittles se prepara para a reforma, tendo por derradeira missão escoltar a mulher e a sobrinha do comandante de Fort Starke até uma diligência que as transportasse para porto seguro. Grande parte do filme passa-se em marcha, com a caravana atravessando a árida paisagem de Monument Valley enquanto se cruza com manadas de búfalos e tribos índias em trânsito. No entanto, a aridez do cenário contrasta com a configuração emotiva das personagens. Quer quando se coloca em evidência o calor das paixões juvenis, quer quando se ergue a experiência de vida acima da insensatez dos jovens guerreiros, o que ressalta em She Wore a Yellow Ribbon é um hino ao humanismo e à generosidade. 
O ambiente de guerra sobre o qual se desenrola a acção reforça, deste modo, os laços existentes entre os seres humanos, fazendo emergir a comoção em pequenos e breves gestos com os quais os conflitos vão sendo superados. Cenas como a do Capitão Brittles a relatar o dia sentado ao pé da campa da falecida mulher, ou quando resolve dialogar com o velho chefe Pony That Walks (interpretado pelo chefe John Big Tree), queixando-se ambos dos malefícios da guerra e da imprudência da juventude, ou ainda quando Brittles recebe da companhia um relógio em prata de presente, são momentos cinematográficos inesquecíveis. Mais do que as desventuras da guerra, independentemente da humilhação dos derrotados ou da glorificação dos vencedores, este filme é um laço amarelo pela humanidade, típica encenação dos bons sentimentos com que Ford sempre gostou de comover o seu público.

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