sábado, 27 de abril de 2013

THE TIN STAR (1957)



Por falar em Anthony Mann (1906-1967), justamente considerado por críticos e historiadores um dos mestres do western, a par de John Ford (1895-1973), reparei que ainda não referi nenhum dos seus filmes nesta digressão. Muitas vezes obnubilado pelo sucesso crítico dos seus pares, Anthony Mann deixou-nos um legado impagável no domínio do western. Clássico dos clássicos, ofereceu ao género uma luminosidade capaz de sintetizar em breves planos-sequência os grandes temas. É o que sucede no início deste The Tin Star (ridiculamente editado em Portugal com o título Sangue no Deserto), quando um homem chega a uma cidade transportando um cadáver. A cidade pára para o observar, as pessoas olham-no com desconfiança e desprezo, algo atónitas, enquanto a câmara nos mostra o braço retesado do morto caindo sobre o dorso do cavalo. O homem que o transporta atravessa a cidade, não com indiferença, mas com determinação, atraindo sobre si todas as atenções. Sabemos, a partir desse momento, que se instalará uma tensão entre ele e a comunidade onde acabara de chegar. E é essa tensão que dominará a narrativa. O forasteiro é Morgan Hickman (Henry Fonda), caçador de prémios que larga no posto do inexperiente sheriff Ben Owens (Anthony Perkins) o cadáver de um fora-da-lei sobre o qual recaía um razoável prémio de captura. Ficaremos então a saber que naquela cidade os caçadores de prémios não são bem-vindos, preferindo-se aquilo a que os homens do poder chamam de julgamentos justos. Acontece também que o foragido capturado é familiar de Bart Bogardus (Neville Brand), um indivíduo racista e radical que disputa com Ben Owens o lugar de sheriff. Entre eles, uma diferença de carácter essencial. Bart Bogardus pretende ser sheriff para disparar sobre quem entender, anseia pelo poder com a intenção de o exercer arbitrariamente. Ao contrário de Ben Owens, para quem a justiça está acima do poder. Mas Ben é ingénuo e inexperiente, confia na estrela que traz ao peito como se ela fosse suficiente para merecer o respeito e o civismo da comunidade. É um idealista entre brutos que foram educados a odiar os índios, a temer a diferença, a manipular as massas em benefício próprio. Morgan Hickman desempenhará um papel importantíssimo no meio desta contenda, servindo-se da sua experiência para abrir os olhos a Ben Owens e refrear os ânimos de Bogardus. Mas esta simplicidade narrativa esconde no seu âmago uma dimensão ética muito mais profunda. As sequências finais, em que Bogardus reúne metade da cidade para capturar mortos ou vivos, o que significa mortos, os irmãos McGaffey (um deles é Lee Van Cleef), e o sheriff Ben Owens se vê sozinho reclamando uma captura que garanta aos criminosos a justiça dos tribunais contra a justiça popular, revelarão uma inflexão no comportamento de Morgan Hickman que o recolocará perante a comunidade. Daí que o filme termine com Morgan abandonando a cidade sob o cumprimento dos populares com quem se cruza, depois de a ela ter chegado numa situação completamente adversa. Digamos que a vitória do bem sobre o mal neste western simples não é meramente retórica, pois na sua clareza Anthony Mann ergue uma reflexão sobre a solidão dos homens que lutam por uma sociedade mais justa. Esta espécie de homenagem à coragem, determinação e integridade do sheriff é, igualmente, um retrato impiedoso da volatilidade das massas e uma crítica manifesta ao poder que actua invariavelmente em função das conveniências, largando os ideais na penumbra. Há um aspecto convencional neste filme que cativa, por nele a mensagem política ser transmitida com a evidência do bom exemplo. O resto é ritmo, puro ritmo, que haveremos de perseguir noutros westerns do mesmo realizador.

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