Henrique Raposo escreveu uma crónica a que deu o título Se
for de esquerda, a pedofilia é chique. O jornal Expresso, na sua versão
on-line, deu-lhe guarida. A primeira premissa não é grave. Pouca gente estará
interessada no que pensa e escreve Henrique Raposo, muito menos saberão sequer
da sua existência. De resto, a comunicação social portuguesa está repleta de
cronistas cuja imbecilidade é o maior argumento a seu favor num meio de
imbecis. Só assim se compreende que um indivíduo patético como o é José António
Saraiva possa manter-se director de jornais ditos de referência (para quem?)
durante anos, ou que tontos na linha de João César das Neves vejam as suas tonteiras
frequentemente amplificadas pelos media. O show biz da opinião dita as
regras, os cronistas respeitam-nas dando azo a polémicas tão histéricas quão
estéreis. Mas a segunda premissa com que abri o texto já me preocupa. Pensar
que um dia alguém poderá andar a recolher informação sobre pedofilia e virá a
deparar-se com a crónica de Raposo, tomando o que ali se diz à letra, sem
sentido crítico (cada mais raro) nem discernimento, atrapalha-me as contas,
deixa-me algo irritado e obriga-me a arrancar às teclas algumas considerações. Ao
contrário do que já li, Henrique Raposo não argumenta que as pessoas de
esquerda sejam pedófilas e simpatizem com a pedofilia. O que ele aponta é dois
pesos e duas medidas na avaliação dos casos onde essa perversão sexual seja o
centro das atenções. A primeira frase da crónica é clara: «No tema da transgressão sexual, a duplicidade de critérios
do costume atinge o zénite: a direita é a enteada, a esquerda é a filha». Faltou acrescentar da puta. Tudo
está errado logo de princípio. Primeiro, porque associar a avaliação de uma transgressão
sexual às inclinações políticas de quem avalia é ofensivamente estúpido.
Depois, porque supor sequer uma discriminação entre transgressor de direita e
transgressor de esquerda coloca a própria suposição ao nível de um transtorno
mental. Repare-se que perante esta argumentação, se uma das minhas filhas fosse
vítima de pedofilia a minha preocupação primeira seria a de tentar perceber se
o pedófilo era de esquerda ou de direita. Se fosse de direita, eu, enquanto homem
de esquerda, requereria a castração do réu. Se posse de esquerda, eu perdoaria.
Imaginem se fosse de esquerda e do Sporting. O mais certo seria pagar-lhe e
agradecer-lhe. Mas se a preocupação ou o problema de Henrique Raposo é o
tratamento dado pela comunicação social a casos de pedofilia ou de outro tipo
de transgressões sexuais, então cabe-nos interrogar, a título de exemplo, sobre
as razões que levaram à detenção ou à ruína política dirigentes socialistas
envolvidos, sem prova, no caso Casa Pia. Não sei se por essa altura Henrique
Raposo já colaborava com O Independente, mas deverá estar recordado dos pesos e
das medidas então praticados pelos media. A pulhice, como diz, não escolhe
rostos nem obedece a hierarquias, mas por vezes deixa-se alimentar pela falta
de memória (o que é ainda mais estranho num historiador). Henrique Raposo vai
mais longe, ao referir uma glorificação da transgressão sexual e até um culto
da mesma pela esquerda europeia. Sabendo nós que há muito os comunistas praticam
uma dieta à base de criancinhas, custa-nos perceber como não foi parar o
próprio Raposo, transformado em fricassé, ao prato de um comuna. É que a sua
argumentação é típica de uma criancinha mimada e invejosa, revelando uma
moralidade de tal forma rastejante que de mais não precisamos para provar a
superioridade moral da esquerda. Henrique Raposo sabe que só muito
recentemente, praticamente a partir dos anos 90 do século passado, é que o
mundo passou a olhar para a pedofilia enquanto “acto criminoso”, quando
transformado em abuso sexual de menores, estando as crianças até então à mercê
da boa vontade dos adultos, e que a chamada idade de consentimento é variável,
e que a caça a meninos, tão facilmente detectável em inúmeras obras, de Platão
a Thomas Mann, deste a Luiz Pacheco, não escolhe simpatias ideológicas, credos
ou inclinações políticas. Sabe, mas não quer saber. Porque o que ele pretende
com a sua crónica é disfarçar um tremendo incómodo, um incómodo do mesmo género
daquele que nos poderia levar a falar de violência doméstica referindo ilustríssimas
famílias da direita portuguesa que a comunicação social nunca quis ecoar. É o incómodo
das meias verdades que, mais tarde ou mais cedo, acabarão por vir à superfície
como à superfície veio o Ballet Rose que Raposo, provavelmente, nunca dançou.
5 comentários:
parece-me que captaste muito bem o que move o HR. Mas não é só ele, há uma direita assim: medíocre, caguinchas. Deus nos acuda!
Há nos jornais demasiado espaço para estes 'tipos' que vão vomitando umas coisas e ganhando estatuto sob a capa de 'provocadores'... desisti de ler gente estupida por acrescimo desisti de ler jornais mesmo que online. Os jornais não perdem leitores por causa da internet perdem porque diminuiram a sua qualidade e exigencia.
Maria, realmente é daqueles casos em que preferia acreditar em Deus. Ele há-de ter uma explicação para tudo isto.
Tétisq, os jornais perderam leitores por muitas razões. A falta de exigência não é uma delas, infelizmente. Veja-se o Correio da Manhã.
mesmo que a tenha, é dele. :) claro que podemos sempre perguntar: não seria muito melhor um mundo sem idiotas como o HR?! pois seria, mas não seria a mesma coisa. ;)
Só mais um ângulo, Henrique
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/09/1344976-voce-acha-que-usa-a-internet-mas-esta-sendo-usado-por-ela-diz-bernardo-de-carvalho.shtml
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