Torel, Lisboa. 2012.
Para o Jorge Aguiar Oliveira
Os meus grafitis só farão sentido enquanto houver quem os
pretenda extinguir. São esculturas de areia, afirmam-se pela efemeridade contra o
universo da cultura nobre. Preservar um grafiti é contraproducente, chega a ser
insultuoso para quem lhe dedicou o nervo da sua irreverência. Imaginem o que
seria um museu de grafitis, com curadores e zeladores e restauradores. Um cemitério
de gritos. Entrego aos caçadores do tempo a missão de me censurarem, enquanto
me entretenho a imaginar obituários cautelosamente elaborados antes da morte
dos artistas. Herberto terá já o dele guardado numa gaveta. Espera a oportunidade
que a morte confirmará. A morte abre muitas portas. Manoel de Oliveira, Fidel,
Mandela devem deixar muita gente ansiosa, muita gente aguardando a oportunidade
de ver publicada as suas sábias e precavidas reflexões. Não quero que os meus
grafitis sejam como estes obituários, eles são a antítese da precaução,
sobrevivem de serem odiados e terem quem os odeie. Que os julguem sujidade é o
melhor elogio que lhes pode ser feito.
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira
Testamento: HMBF
2 comentários:
esse grafiti ta lindo amigo. mesmo!!
http://ocarteiravazia.blogspot.pt /
Olha um galo que rosna. Ah, Tigre!
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