segunda-feira, 28 de outubro de 2013

LOU REED (1942-2013)

 
 

 

Na província era assim, não havia lojas de discos. As que havia, limitavam-se aos singles que tocavam na rádio e aos LPs mais vendidos. Arranjei forma de chegar ao ouro através de uma espécie de Círculo de Leitores dos discos. Não me recordo do nome do serviço, mas encomendei-lhes vários álbuns dos Led Zeppelin, do Neil Young, do Bob Dylan e uma colectânea: The Best of Lou Reed (1981). Foi a partir daí que desbravei caminho na direcção das fontes. Os três primeiros álbuns a solo de Lou Reed, depois da aventura fundamental e fundadora com os The Velvet Undergournd, são imprescindíveis: Lou Reed (1972), Transformer (1972) – produzido por David Bowie & Mick Ronson – e Berlin (1973) afirmam um compositor de canções mais exigente do que os álbuns dos Velvet permitiam supor. É verdade que a essência rock and roll se mantém, mas a inclinação noisy dos Velvet, transfiguradora da cultura underground nova-iorquina, acabará por ceder lugar a matrizes mais próximas do blues, da soul music e até mesmo da ópera. Reed instaura nesses primeiros álbuns uma dicotomia da qual nunca mais se libertará. Aqueles que apenas o olhavam segundo uma perspectiva revolucionária, passam a desconfiar da postura algo conservadora. Mas ser conservador, neste universo, é substancialmente diferente de ser-se obtuso. O que "assalta a vista" é a importância da escrita nas canções, uma importância que advém da influência exercida por escritores como Delmore Schwartz ou Edgar Allan Poe – devidamente contemplado em The Raven (2003). O próprio escritor de canções afirmará, numa entrevista datada de 1979: «quero fazer rock and roll que esteja à altura de Os Irmãos Karamazov». Compreende-se a ambição, aceita-se, elogia-se até. Três acordes bastaram a Lou Reed para, em inúmeras variações, com arranjos diversos e ambientes distintos, dar suporte musical às suas histórias. Chamam-lhe poeta, classificação com a qual não devemos iludir-nos. Poeta era o outro, de seu nome James Douglas Morrison. Lou Reed é contador de histórias, geralmente urbanas, mais ou menos depressivas, sobre indivíduos escorraçados por uma sociedade ameaçada pelo pânico da liberdade e do amor. Em 1992 publicou um dos meus álbuns preferidos, Magic and Loss. Ainda o adquiri na versão vinil, estava então a caminho de Lisboa. Fizeram-me sentido como nunca as suas canções. Principalmente esta espada de Dâmocles:
 


 

I see The Sword of Damocles
is right above your head
They're trying a new treatment
to get you out of bed
But radiation kills both bad and good
it can not differentiate
So to cure you they must kill you
the Sword of Damocles hangs above your head

Now I have seen lots of people die
from car crashes or drugs
Last night on 33rd st.
I saw a kid get hit by a bus
But this drawn out torture over which part of you lives
is very hard to take
To cure you they must kill you
the Sword of Damocles above your head

That mix of morphine and dexedrine
we use it on the street
It kills the pain and keeps you up
your very soul to keep
But this guessing game has its own rules
the good don't always win
And might makes right
the Sword of Damocles is hanging above your head

It seems everything's done that must be done
from over here though things don't seem fair
But there are things that we can't know
maybe there's something over there
Some other world that we don't know about
I know you hate that mystic shit
It's just another way of seeing
the Sword of Damocles above your head


3 comentários:

je suis...noir disse...

Magic and loss. Não sabia de ninguém que tivesse este album. (só eu, claro)

(Between two Aprils i lost two friends. Between two Aprils Magic and loss)

hmbf disse...

Tenho em vinil. Um dia destes dedico uma série ao vinil. :-)

je suis...noir disse...

Também tenho em vinil. (deve ser da mesma edição. Tem a tradução das letras em espanhol, em francês e alemão:))

Acho bem:)