Nunca recebi tantos parabéns no meu dia de anos como este
ano. Culpa minha, esqueci-me de desactivar o Facebook nesse dia (foi o que fiz
noutros anos). Reparo agora que na página do saudoso Torquato da Luz são
igualmente muitos os parabéns, votos de felicidades e até de dias bons.
Portanto, vivo ou morto o ente facebookiano é merecedor da mesma atenção. Esbatem-se
fronteiras definidoras de conceitos, o mundo metamorfoseia-se num vazio de
conhecimento do outro que o reduz a mera identidade virtual. Desejam-se dias
felizes aos mortos como se estivessem vivos, vida e morte passam a estar ao
mesmo nível, tal como presença e ausência, proximidade e distância. Estamos ali
no corpo de uma fotografia, de um perfil, músculos, nervos, órgãos vitais
transformados em pixéis e códigos informáticos a partir dos quais mostramos que
sentimos, que somos gente. Qualquer dia fazem-se filhos assim, mortos ou vivos.
E deles trataremos como das galinhas no Farmville.
1 comentário:
Imortalidade de pixéis sem músculo, de facto, soa um bocadinho a logro mas a perspectiva do fb ter muitos mais mortos que vivos, tem as suas contrapartidas. Podemos falar com eles sem ter de ir à bruxa, por exemplo. Mandar mensagens muito importantes como um dia destes passamos por aí para emprestar o berbequim… Podemos alugar a necrófagos identidades de amigos e familiares de quem sabíamos os passes, celebrar o 150º aniversário de um avô, denunciar a foto desactualizade de um perfil, exigir que nos devolvam o vinil dos grandes êxitos dos Brotherhood of Man e até desvendar segredos, declarar amores e insultar a torto e a direito sem dar azo a retaliações desagradáveis.
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