Sentir inveja e desprezo pela irreflexão das coisas,
Encontrar o pathos em cães ou em caligrafias subdesenvolvidas,
Em jovens raparigas que arranjam o cabelo, todos os castelos de areia
Caídos por terra à hora de dormir das crianças, junto ao mar.
Vem a maré e some-se de novo; não quero
Sublinhar para sempre o seu fluxo, nem a sua permanência,
Não quero ser um coro trágico ou filosófico,
Quero apenas olhar de frente o futuro mais próximo
E depois disso deixar que o mar nos cubra.
Então, venham todos, aproximem-se, formem um círculo,
Dêem as mãos, façam de conta que, juntas,
As mãos mantêm afastados os lobos da água
Que uivam ao longo da costa. E que se saiba
Que ninguém os ouve, por entre conversas e risos.
Louis MacNeice, in Estradas Secundárias - doze poetas irlandeses, selecção, posfácio e tradução de Hugo Pinto Santos, Artefacto, Junho de 2013, p. 23.
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