Por outro lado, podes também perguntar-te de que vale ao
tempo ter ponteiros? Talvez como tu ele preferisse ter asas. Mas como tu ele
não voa, rasteja. E tem veneno nas horas.
O vento semeia o veneno para que dele nasçam muralhas. Geradas
na terra, afundadas na lama da história, iludem o desconforto das estações com
uma ideia de perenidade. Basta olharmos as árvores despedidas, fruto extinto…
…que o labor das mãos não renova. Estamos de vigia às águas
do rio, o lugar não visto dos mortos onde ninguém mergulha duas vezes. Nem a
sombra das árvores despidas.
Indiferente ao tempo, um gato solitário percorre seu
caminho. Queria como ele saber caminhar pausadamente. Nem voo nem pausa, apenas
um tremor desajeitado nos olhos que através dos olhos se mete no sangue e se
espalha pelo corpo. O veneno.
Não pensar, talvez. Libertar a vontade e o desejo dos
labirintos funestos do pensamento. Que tudo fluísse apenas como as águas do rio,
as nuvens do céu, os vapores do tempo imensurável. O som da trovoada.
Feliz por apenas ser. Nem sequer feliz, por felicidade não
haver nos nervos da terra, no sangue das pedras, no músculo da erva. Ser apenas
uma coisa que voa, como voam todas as coisas contentes de si próprias, salvas
da vontade, libertas da ambição.
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