Olá.
O meu julgamento começa amanhã à tarde no Campus de
Justiça e prossegue, pelo menos, nas próximas duas quintas-feiras.
O Ministério Público (MP) acusa-me, com base no
testemunho de um polícia que assina o Auto de Notícia em anexo, de ter
projectado uma cadeira de uma das esplanadas do Chiado sobre uma linha de
polícias que na Rua Serpa Pinto protegia a detenção de um manifestante. Não
tendo sido identificado durante a manifestação, nem em nenhum outro momento
anterior ou posterior, o Auto refere que se fez uso para tal de informações do
Núcleo de Informações da PSP, na forma que passo a citar: “trata-se de um
indivíduo que é presença habitual neste tipo de manifestações/concentrações,
pautando sempre a sua conduta de forma agressiva para com as Forças de
Autoridade”. Ainda não é certo se este julgamento servirá para esclarecer a
qualidade de polícia política que a PSP parece requerer para si no documento
citado.
Passaram agora mais de dois anos sobre os “acontecimentos
do Chiado” e a memória dilui-se. Nada que a Internet e os jornais da altura não
reponham num instante. Foi dia de greve geral combativa, com várias manifestações
a atravessarem o Chiado em direcção a São Bento. Perante a passagem de uma
delas a PSP tem a ideia genial de deter um estivador que vinha rebentando
petardos ao longo do percurso. É um homem de meia-idade com um pacemaker,
cuja detenção provoca o espanto e reacção imediata dos seus amigos e depois a
indignação de toda a manifestação. Foi este o momento inicial de um descontrolo
policial que varreu, a vários tempos e intensidades, todo o Chiado até ao Largo
de Camões com um balanço final de dezenas de feridos entre manifestantes,
jornalistas e transeuntes. Nesse dia temos o Ministro da Administração Interna
na televisão a explicar-se e dias depois a ser requerido pelo Bloco de Esquerda
para uma audiência parlamentar convocada de urgência para o efeito; temos um
inquérito aberto pelo IGAI ao comportamento da PSP, preenchido com declarações
de várias pessoas agredidas; e temos o MP a agrupar num mega-processo penal
cerca de uma dezena de queixas.
De tudo isto nada reza a história, Macedo é ainda
Ministro da Administração Interna, os resultados do IGAI são aparentemente
nulos e o MP arquiva todos os processos na fase de instrução, por falta de
provas, todos à excepção daquele contra mim. A PSP atacou uma manifestação em
dia de greve geral, o Ministro da Administração Interna defende-a e responde
politicamente no parlamento; as várias queixas apresentadas contra polícias,
tanto no penal como junto do IGAI, são arquivadas e esquecidas, sobrando um
processo contra uma pessoa que, como milhares de outras desde o último mandato
de Sócrates, têm participado e organizado várias manifestações. É disto que
fala, em específico, a ideia de que a história é sempre a história dos
vencedores.
Junto algumas ligações de Internet,
E anexo o Auto de Notícia.
As audiências serão sempre às 14h, no 5º Juízo Criminal
de Lisboa, 1º Secção (edifício “B” do Campus de Justiça, na Expo)
Agradeço divulgação em blogues e fb pois não os tenho.
Que a denúncia seja por ora a nossa arma. Se alguém quiser produzir opinião com
mais folgo sobre esse dia/julgamento posso enviar documentação vária do
processo, nomeadamente o despacho de acusação e a nossa contestação.
Abraços e beijinhos
Miguel Carmo
Ligações:
A imagem ao alto foi respigada aqui. Convém aumentar para ler convenientemente. Mais um exemplo concreto de que estamos a caminhar para trás.
Sem comentários:
Enviar um comentário