domingo, 11 de maio de 2014

FOI ISTO QUE PROVOCOU A CRISE DO EURO

A retórica da coligação PPD-PSD/CDS-PP às europeias não podia ser mais trapaceira: os portugueses não vão punir quem foi parte da solução, mas sim quem causou o problema. Ou seja, para Paulo Rangel & Cª Lda Cavaco Silva nunca existiu, Durão Barroso nunca existiu, Santana Lopes nunca existiu e a crise financeira internacional é uma ficção longínqua. Tudo começou em 2005 com a chegada de Sócrates ao poder, andava Paulo Rangel a dar lustro aos botões de punho na Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados. Azar dos azares, vem agora um ex-conselheiro de Barroso pôr os pontos nos iii. O que diz Philippe Legrain sobre a origem da crise?

…o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores. E em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores. Podemos vê-lo claramente em Portugal: a troika (de credores da zona euro e FMI) que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi claramente o que aconteceu em Portugal.

Mas, mas, mas senhor Legrain não tivemos uma saída limpa? O pior não passou já? E o Sócrates, esse ladrão? O Dr. Rangel anda para aí a dizer que o pior já passou.

As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.

Enfim, o resto vem aqui e merece ser lido. Muito mais do que ouvir os discursos primários de um advogado com botões de punho que, queira Deus, ainda há-de, como outros antes dele, vir a parar no sector bancário.

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