A retórica da coligação PPD-PSD/CDS-PP às europeias não
podia ser mais trapaceira: os portugueses não vão punir quem foi parte da
solução, mas sim quem causou o problema. Ou seja, para Paulo Rangel & Cª
Lda Cavaco Silva nunca existiu, Durão Barroso nunca existiu, Santana Lopes
nunca existiu e a crise financeira internacional é uma ficção longínqua. Tudo
começou em 2005 com a chegada de Sócrates ao poder, andava Paulo Rangel a dar
lustro aos botões de punho na Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados.
Azar dos azares, vem agora um ex-conselheiro de Barroso pôr os pontos nos iii. O
que diz Philippe Legrain sobre a origem da crise?
…o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter
unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar
numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países
devedores. E em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos
para os credores imporem a sua vontade aos devedores. Podemos vê-lo claramente
em Portugal: a troika (de credores da zona euro e FMI) que
desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo
democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos
credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau
demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior
ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro
quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou
numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente
longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi
claramente o que aconteceu em Portugal.
Mas, mas, mas senhor Legrain não tivemos uma saída limpa? O
pior não passou já? E o Sócrates, esse ladrão? O Dr. Rangel anda para aí a dizer que o pior já passou.
As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português,
mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a
situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa
bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e
a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no
início do programa.
Enfim, o resto vem aqui e merece ser lido. Muito mais do que
ouvir os discursos primários de um advogado com botões de punho que, queira
Deus, ainda há-de, como outros antes dele, vir a parar no sector bancário.
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