Manuel Baltazar, mais conhecido por Manuel “Palito”,
andava fugido das autoridades há 34 dias. Separado da mulher devido a problemas
de violência doméstica, perseguiu-a todos os dias durante cinco anos. Acabou
por assassinar a ex-sogra, uma tia e ferido a ex-mulher e a filha de ambos. Eis
como reagiram algumas pessoas à sua captura:
Apesar de ser considerado perigoso pelas autoridades e
estar fortemente indiciado pelos crimes, o homem também conhecido como Manuel
“Palito”, que esteve fugido 34 dias foi recebido como uma espécie de herói
popular. À sua chegada, foi aclamado por mais de 200 habitantes
locais, que o esperavam. Tiraram fotos com os telemóveis, bateram
palmas e também assobiaram, mas numa manifestação de apoio. Ninguém o criticava
e alguns até o elogiavam.
Partamos do princípio optimista de que aqueles 200
habitantes locais não reflectem o país de Cavaco, Isaltino Morais, Fátima
Felgueiras, Avelino Ferreira Torres, Valentim Loureiro, Duarte Lima, Alberto
João Jardim, Dias Loureiro, Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, entre outras
ilustres personalidade da sociedade portuguesa. São apenas 200 pessoas que
simpatizam com um criminoso vulgar, um entre muitos que o implacável ministério
de Paula Teixeira da Cruz não deixará impune. A questão que me coloco neste momento
é de outra ordem. Tomando de princípio certos discursos que não consigo deixar
de julgar xenófobos e etnocêntricos, quando não racistas, voltados contra
árabes, ciganos, africanos, pergunto-me sobre qual o raciocínio que as pessoas
com esse tipo de discurso adoptarão face a este novo herói português. Vejamos
mais um pouco da sua história:
A partir de Fevereiro de 2009, altura em que o casal se
separou, o alegado homicida passou a levantar-se de madrugada para ver por onde
a ex-mulher andava e para exercer coacção sobre ela, de acordo com o processo
relativo aos episódios de violência doméstica ao qual o PÚBLICO teve acesso.
Neste processo fica ainda claro que a pulseira electrónica, através da qual
Manuel Baltazar era vigiado pelos serviços prisionais, visava impedi-lo de se
aproximar da ex-mulher. Sem êxito, como se viu. (…) Ainda de acordo com o
processo, muitas vezes o arguido começava a perseguir a mulher logo pelas 6h de
quase todos os dias. Depois de o divórcio ter sido decretado, passou a
persegui-la “na rua e nos locais” onde a ex-mulher trabalhava, para a “ameaçar
e amedrontar”. Chegava mesmo a ameaçar quem dava trabalho à ex-mulher, para a
privar de meios de subsistência e a controlar. Por essa altura, Fevereiro de
2009, a ex-mulher estava numa casa abrigo da APAV, em Vila Real. Porém, teve de
fugir dessa casa, onde esteve oito meses, até Agosto, quando Manuel Baltazar
descobriu a sua localização. Foi, então, morar para uma casa de Peso da Régua,
onde se achava mais segura. Certo é que, por esses dias, foi também localizada
junto de uma paragem de autocarro onde aguardava transporte para o trabalho.
Voltou a ser agredida e ameaçada de morte, o que não lhe era de todo novidade.
Ainda quando morava com o ex-companheiro foi ameaçada com uma arma para voltar
a dormir no quarto do casal. Antes disso, a 5 de Dezembro de 2011, foi o filho
de ambos, de 30 anos, quem Manuel Baltazar ameaçou com uma arma, apontada ao
peito, durante uma apanha de azeitona em Valongo dos Azeites. “Se queres matar,
mata-me a mim”, disse a ex-mulher que intercedeu pelo filho. Esta actuação do
arguido poderá explicar a circunstância de vários advogados terem
sucessivamente recusado defender Manuel Baltazar em tribunal, como consta no
processo. De acordo com a mesma fonte documental, Manuel Baltazar, que chegou a
ter quatro espingardas e inúmeras munições em casa, ameaçava todos os familiares
da ex-mulher e amigos que a defendessem. Não abria qualquer excepção, nem para
os próprios filhos e incompatibilizou-se com dois dos quatro irmãos com quem
deixou de falar.
Portanto, é este o homem agora aplaudido por “200
habitantes locais”. Imaginem se a sua ira se tivesse voltado contra algumas das
ilustres personalidade acima aludidas. É só uma hipótese. Seja como for, a
pergunta que deixo em aberto é: devemos falar dos portugueses aceitando Manuel “Palito”
e os 200 cidadãos que o aplaudem como referências culturais e étnicas? Podem
estas pessoas ser representativas de um povo e de uma etnia? Assim como por
vezes se diz que os ciganos são todos ladrões e os árabes machistas, devemos
considerar os portugueses “manueis palitos” ou, não sendo “manueis palitos”,
simpatizantes de?
5 comentários:
infelizmente este "herói" foi fabricado pelas nossas polícias, cujo aparato televisivo quase que o transformou em personagem de ficção, que escapava sempre aos polícias (que no nosso país estão muito longe de serem os bons...).
mesmo que o sujeito não passo de mais um cobarde, daqueles que gostam de bater em mulheres (não nos falta gentalha dessa, de norte a sul).
Ainda bem que não é candidato às eleições...
Caro Luis Eme .
O herói foi fabricado ? Pelas Policias ?Tem fundamentação para esse facto.?As Policias tem uma estação televisiva própria ?Durante este período de tempo existiu algum facto relevante para o pais ?.Relativamente à ficção espero que não seja cientifica e com o seu grau de exactidão .Existe nos manuais sociologia e de Psicologia Forense explicações .
Luis, não me parece que as policias o tenham fabricado. Sobre o fabrico de heróis deste género, muito haveria a dizer. No meu post, a questão que eu gostava que fosse reflectida é outra. Imagina que o "palito" era cigano. Teria 200 pessoas a aplaudi-lo?
Cuca, tens muitas alternativas no boletim de voto que estão à altura. ;-)
não sei, Henrique.
em Portugal é difícil encontrar certezas neste campo.
não gostamos de ciganos mas também não simpatizamos muito com a gente da lei.
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