Entre o eco da lamentação esganiçada de Cavaco, que há
anos se interroga sobre o que é preciso fazer para que nasçam mais crianças, e as
medidas ontem anunciadas em prol da natalidade, ficou-me pelo meio a rainha
Ginga com seu harém de cinquenta jovens trajados de mulher. Tivesse Alfred
Jarry (1873-1907) conhecimento desta figura, talvez O Supermacho aparecesse com
outra configuração. A obra, de cariz mais satírico do que erótico, surgiu em
1902 (a narrativa passa-se em 1920), mas é de uma actualidade desconcertante. Nela se evocam algumas performances
sexuais absolutamente extraordinárias. Por exemplo, o idiota que Bathybius
conheceu em Bicêtre:
«…um idiota e, além do mais, epiléptico, o qual, durante
toda a vida, que ainda hoje dura, se entregou, por assim dizer
ininterruptamente, à prática de actos sexuais. Mas… solitariamente, o que
explica muita coisa».
Enfim, na Lusitânia de 2014 não escasseiam exemplares congéneres.
Por sua vez, o jovem André Marcueil é da opinião que:
«…não passa de uma brincadeira, não só desposar as trinta
ou as cinquenta filhas virgens do rei Lysius, como também bater o «record» do
Índio «tão celebrado por Teofrasto, Plínio e Ateneu», o qual, conta-nos,
segundo estes autores, Rabelais, «com a ajuda de certa erva, o fazia num só dia
setenta vezes, e mais».
Com ou sem erva, a opinião gerará polémica e carecerá de
prova científica. O bom Marcueil não se fará rogado. Antes, porém, do record do
Índio supermacho ser testado surge na discussão:
«A mulher conhecida na História por ter arrumado num só
dia, mais de vinte e cinco amantes (…)».
Falamos de Messalina. Nestas matérias, a Wikipédia é
sempre de uma utilidade imprescindível: Valéria Messalina, imperatriz-consorte
romana, terceira esposa do imperador Cláudio, terá conspirado contra o marido
(política e sexualmente). A reputação histórica de Messalina é discutível,
podendo ter sido denegrida tacticamente. Mas vale a pena citar:
Dois relatos foram os principais culpados pela má
reputação da imperatriz. Um é a história de uma suposta competição de sexo com
uma prostituta no livro X da "História Natural", de Plínio, o Velho,
que teria durado 24 horas e que Messalina venceu com um placar de 25 parceiros
diferentes. O poeta Juvenal apresenta uma descrição igualmente famosa em sua misógina
sexta sátira de como a imperatriz costumava trabalhar clandestinamente a noite
toda num motel sob o nome de "Loba".
Pouco nos interessa a veracidade dos relatos, os quais
parecem suficientemente atractivos para que sobre eles não deva pesar exigência e rigor científicos.
Um bom mito pode ser mais útil do que centenas de verdades. Assim parece ser
com o Índio de Teofrasto e Messalina, casal de sonho que Pedro Passos Coelho e seu
séquito de especialistas em natalidade só não se lembraram de reproduzir por
falta, lá está, de investimento na investigação científica.
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