quarta-feira, 16 de julho de 2014

ÍNDIO & MESSALINA


Entre o eco da lamentação esganiçada de Cavaco, que há anos se interroga sobre o que é preciso fazer para que nasçam mais crianças, e as medidas ontem anunciadas em prol da natalidade, ficou-me pelo meio a rainha Ginga com seu harém de cinquenta jovens trajados de mulher. Tivesse Alfred Jarry (1873-1907) conhecimento desta figura, talvez O Supermacho aparecesse com outra configuração. A obra, de cariz mais satírico do que erótico, surgiu em 1902 (a narrativa passa-se em 1920), mas é de uma actualidade desconcertante. Nela se evocam algumas performances sexuais absolutamente extraordinárias. Por exemplo, o idiota que Bathybius conheceu em Bicêtre:

«…um idiota e, além do mais, epiléptico, o qual, durante toda a vida, que ainda hoje dura, se entregou, por assim dizer ininterruptamente, à prática de actos sexuais. Mas… solitariamente, o que explica muita coisa».

Enfim, na Lusitânia de 2014 não escasseiam exemplares congéneres. Por sua vez, o jovem André Marcueil é da opinião que:

«…não passa de uma brincadeira, não só desposar as trinta ou as cinquenta filhas virgens do rei Lysius, como também bater o «record» do Índio «tão celebrado por Teofrasto, Plínio e Ateneu», o qual, conta-nos, segundo estes autores, Rabelais, «com a ajuda de certa erva, o fazia num só dia setenta vezes, e mais».

Com ou sem erva, a opinião gerará polémica e carecerá de prova científica. O bom Marcueil não se fará rogado. Antes, porém, do record do Índio supermacho ser testado surge na discussão:

«A mulher conhecida na História por ter arrumado num só dia, mais de vinte e cinco amantes (…)».

Falamos de Messalina. Nestas matérias, a Wikipédia é sempre de uma utilidade imprescindível: Valéria Messalina, imperatriz-consorte romana, terceira esposa do imperador Cláudio, terá conspirado contra o marido (política e sexualmente). A reputação histórica de Messalina é discutível, podendo ter sido denegrida tacticamente. Mas vale a pena citar:

Dois relatos foram os principais culpados pela má reputação da imperatriz. Um é a história de uma suposta competição de sexo com uma prostituta no livro X da "História Natural", de Plínio, o Velho, que teria durado 24 horas e que Messalina venceu com um placar de 25 parceiros diferentes. O poeta Juvenal apresenta uma descrição igualmente famosa em sua misógina sexta sátira de como a imperatriz costumava trabalhar clandestinamente a noite toda num motel sob o nome de "Loba".

Pouco nos interessa a veracidade dos relatos, os quais parecem suficientemente atractivos para que sobre eles não deva pesar exigência  e rigor científicos. Um bom mito pode ser mais útil do que centenas de verdades. Assim parece ser com o Índio de Teofrasto e Messalina, casal de sonho que Pedro Passos Coelho e seu séquito de especialistas em natalidade só não se lembraram de reproduzir por falta, lá está, de investimento na investigação científica.

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